Wednesday, August 31, 2005

Soares II - O laico

O Soares apresentou-se como candidato. Nas primeiras eleições apresentou-se um Republicano, Laico e Socialista. Um anacronismo sem sentido mas calculado .
Se os amigos de ontem recusam-lhe apoio em nome dos ideais republicanos, se o bobo do regime o apoio e entroniza como rainha-mãe, se ser socialista é apenas ter um cartão de militante do PS, fica o quê?
O laico. Pelos memos até Maria Barroso o converter aos valores místicos e pios.
A verdade é que já Marx dizia: 'A História repete-se sempre duas vezes, a 1ª como tragédia a 2ª como farsa’. E dizem que era socialista apesar de não ter cartão de militante do PS. Ou será que era o Groucho?

Resignação

É preciso enterrar el-rei Sebastião
é preciso dizer a toda a gente
que o Desejado já não pode vir.
É preciso quebrar na ideia e na canção
a guitarra fantástica e doente
que alguém trouxe de Alcácer Quibir.

Eu digo que está morto.
Deixai em paz el-rei Sedastião
deixai-o no desastre e na loucura.
Sem precisarmos de sair do porto
temos aqui a mão
a terra da aventura.

Vós que trazeis por dentro
de cada gesto
uma cansada humilhação
deixai falar na vossa voz a voz do vento
cantai em tom de grito e de protesto
matai dentro de vós el-rei Sebastião.

Quem vai tocar a rebate
os sinos de Portugal?
Poeta: é tempo de um punhal
por dentro da canção.
Que é preciso bater em quem nos bate
é preciso enterrar el-rei Sebastião.

Manuel Alegre - Abaixo el-rei Sebastião

O político não ouviu o poeta. Renunciou a matar el-rei Sebastião num discurso com “um punhal por dentro”. Enunciou para concluir o contrário mas ninguém esperava outra coisa. Só poucos ainda acreditam em sibilinas mensagens no discurso.
Confesso que até tenho alguma simpatia pelo Manuel Alegre. É um político cheio de contradições, mas não é insosso. É real. Ou melhor, é republicano.
Só que ontem fez o meu país mais pequenino porque como ele mesmo escreveu: “um país tem o tamanho dos seus homens e o meu país tem o teu tamanho e nada mais.”

Tuesday, August 30, 2005

Finalmente um reforço

Já começava a duvidar. No meio de tantas promessas, de tanta novela, o meu Benfica lá conseguiu um dos reforços prometidos. No meio de tudo isto um sinal positivo: conseguiram contratar um jogador antes de ele aparecer nas primeiras páginas dos jornais desportivos.
Na universidade, numa picardia entre cursos, disse uma vez a uma amiga que os jornalistas desempenhavam a mesma função social dos divulgadores de boatos, eram uma espécie de porteiras com estudos. Guardei a expressão que utilizei mais algumas vezes como arma de arremesso. Guardei-a porque gostei da imagem, da sua piada, não por acreditar nela. Confesso que a gostava de usar. Era uma imagem forte e até ofensiva, razão pela qual apenas a usava com pessoas amigas e como brincadeira.
Apesar de ler, e ocasionalmente comprar, jornais desportivos, acredito que podemos aplicar esta expressão ao jornalismo desportivo. É um subgénero que vive da trica e do boato, que desqualifica os seus autores. Imagino até que pelos seus pares sejam categorizados apenas um pouco acima dos cronistas sociais. Imagino que um jornalista "à séria", que tenha passado pelos desportivos, esconda essa mancha. Se questionado por esse período preferirá dizer que teve uns problemas e andou uns anos por umas clínicas estrangeiras, ou que andou a percorrer o mundo com uma mochila. Tudo menos a vergonha de ter tratado sobre quem bebia taças de champanhe, comia fruta mas preferia café com leite.

Monday, August 29, 2005

A recordar

O Público de ontem, na última página, a propósito das iniciativas de um restaurante de Braga, trazia uma notícia sobre os recordes Guinness. Dei por mim a pensar como seria interessante fazer um estudo sobre estes recordes em Portugal. Verificar quantos e que tipo de recordes estão, ou foram registados, podia dar um retrato do Portugal de hoje. Naturalmente que existem muitos tipos de recordes, mas gostava de os separar em dois tipos básicos: recordes que resultam de iniciativas que visam determinado recorde e os outros. Parece-me elementar separar recordes como: a maior taxa de produção, a menor taxa de analfabetismo, a maior taxa de literacia, etc; de recordes como: o da maior francesinha, o maior número de Pais Natais, etc.
Não sei se esta apetência pelo Guinness World Records representa uma certa cultura pimba, sei é que não é exclusivo de iniciativas indivuduais. É que desde a oficial feijoada da Ponte Vasco da Gama, o próprio estado se tornou promotor desta glória efémera.
A verdade é que uma das obras mais importantes da Engenharia Civil do final do século passado, bandeira de uma das mais caras iniciativas de obras públicas. Intimamente ligada EXPO 98, foi inaugurada por um destes (des)prestigiantes recordes. Haja Portugal.

Friday, August 26, 2005

O conflito vital

Há uns anos li alguns textos de Ortega Y Gasset que por diversas vezes voltei a procurar sem sucesso, embora sem muita dedicação. Hoje num golpe de sorte deparei-me com esses textos, ou pelo menos parte deles. Não fossem tão longos e estarem em espanhol apetecia-me enviá-los para alguns conhecidos.

"El hecho más elemental de la vida humana es que unos hombres mueren y otros nacen —que las vidas se suceden—. Toda vida humana, por su esencia misma, está encajada entre otras vidas anteriores y otras posteriores —viene de una vida y va a otra subsecuente—. Pues bien, en ese hecho, el más elemental, fundo la necesidad ineludible de los cambios en la estructura del mundo. Un automático mecanismo trae irremisiblemente consigo que en una cierta unidad de tiempo la figura del drama vital cambia, como en esos teatros de obras breves en que cada hora se da un drama o comedia diferente. No hace falta suponer que los actores son distintos: los mismos actores tienen que representar argumentos diferentes. No está dicho, sin más ni más, que el joven de hoy —esto es, su alma y su cuerpo— es distinto del de ayer; pero es irremediable que su vida es de armazón diferente que la de ayer.

Ahora bien, esto no es sino hallar la razón y el período de los cambios históricos en el hecho anejo esencialmente a la vida humana de que ésta tiene siempre una edad. La vida es tiempo —como ya nos hizo ver Dilthey y hoy nos reitera Heidegger, y no tiempo cósmico imaginario y porque imaginario infinito, sino tiempo limitado, tiempo que se acaba, que es el verdadero tiempo, el tiempo irreparable—. Por eso el hombre tiene edad. La edad es estar el hombre siempre en un cierto trozo de su escaso tiempo —es ser comienzo del tiempo vital, ser ascensión hacia su mitad, ser centro de él, ser hacia su término— o, como suele decirse, ser niño, joven, maduro o anciano.

Pero esto significa que toda actualidad histórica, todo "hoy" envuelve en rigor tres tiempos distintos, tres "hoy" diferentes o, dicho de otra manera, que el presente es rico de tres grandes dimensiones vitales, las cuales conviven alojadas en él, quieran o no, trabadas unas con otras y, por fuerza, al ser diferentes, en esencial hostilidad. "Hoy" es para uno veinte años, para otros, cuarenta, para otros, sesenta; y eso, que siendo tres modos de vida tan distintos tengan que ser el mismo "hoy", declara sobradamente el dinámico dramatismo, el conflicto y colisión que constituye el fondo de la materia histórica, de toda convivencia actual. Y a la luz de esta advertencia se ve el equívoco oculto en la aparente claridad de una fecha. 1933 parece un tiempo único, pero en 1933 vive un muchacho, un hombre maduro y un anciano, y esa cifra se triplica en tres significados diferentes y, a la vez, abarca los tres: es la unidad en un tiempo histórico de tres edades distintas. Todos somos contemporáneos, vivimos en el mismo tiempo y atmósfera —en el mismo mundo—, pero contribuimos a formarlos de modo diferente. Sólo se coincide con los coetáneos. Los contemporáneos no son coetáneos: urge distinguir en historia entre coetaneidad y contemporaneidad. Alojados en un mismo tiempo externo y cronológico, conviven tres tiempos vitales distintos. Esto es lo que suelo llamar el anacronismo esencial de la historia. Merced a ese desequilibrio interior se mueve, cambia, rueda, fluye. Si todos los contemporáneos fuésemos coetáneos, la historia se detendría anquilosada, petrefacta, en un gesto definitivo, sin posibilidad de innovación radical ninguna."

Foto com vista para a eternidade


"Há sítios do mundo que são como certas existências humanas: tudo se conjuga para que nada falte à sua grandeza humana. Este Gerês é um deles"
( Miguel Torga, Diário VII)

Recuperar

Resolvi recuperar os posts da anterior tentativa. Sempre me atenua um pouco a sensação de perda.

Não é preguiça

O parto do segundo "post" está a ser complicado. Não é por preguiça, é um misto de falta de tempo com um não saber o que escrever. Ou melhor, sobre o que escrever. Isto não pretende ser um diário, mas gostava de escrever sobre coisas que me afectassem. A neutralidade sempre foi uma coisa que me chateou. Como todos não gosto de conflitos, mas nunca suportei não fazer opções.


Frente a frente

Nada podeis contra o amor,
Contra a cor da folhagem,
contra a carícia da espuma,
contra a luz, nada podeis.

Podeis dar-nos a morte,
a mais vil, isso podeis- e é tão pouco!

Eugénio de Andrade

Acordei com a notícia da sua morte. Mais tarde recebi este seu poema por e-mail. Não sou um leitor da sua obra, conheço-a apenas. Na verdade, nem sou um leitor de poesia. Gosto apenas de, ocasionalmente, folhear livros e deter-me em poemas ao acaso. Alguém me disse uma vez:" Não se lê um livro de poesia. Abrem-se e folheiam-se. Ler de empreitada destrói o gosto de o sentir." Até pode ser uma grande asneira mas no momento, como ainda hoje, fez tudo o sentido. Tenho naturalmente os meus autores favoritos. Escolhidos mais por razões emocionais do que pelo valor da sua obra. Aliás, como a maioria faço muitas das minhas opções por impulsos que não sei explicar. Normalmente não me dou mal, mas nem sempre possuo a coragem para os seguir. Sei que possivelmente alguém me saberia explicar porque faço essas opções. Para algumas delas, mais tarde descubro uma razão. Só não gosto de ter que a descobrir. Procurar a causa das coisas é normalmente sinal de problemas. Não se procura a razão da felicidade e da alegria. Procura-se a razão da infelicidade e da tristeza.

Perdi um blog

Confiar na memória pode ser perigoso como acabo de descobrir. Hoje é-nos solicitado a utilização de um sem número de pares de "Login's" e "Password's", um número bem acima da nossa capacidade de memorização. Solução? Cada um de nós acaba por encontrar uma. Mas nenhuma delas nos liberta desta ditadura de códigos de segurança. A verdade é que por ter esquecido esse "santo e senha", que me dava acesso à minha primeira tentativa nos blogs, não consigo entrar no meu anterior blog. Se não perdi muitos posts, perdi qualquer coisa que não sei descrever.