Tuesday, November 29, 2005

O Livro




A todos, nas suas diversas formas, já nos foi feita a pergunta sobre o livro, o filme, etc., da nossa vida. Eu confesso que nunca sei responder. Como escolher um entre tantos? É complicado. Recentemente escutei uma resposta que me fez pensar um pouco. Não se trata de nomear o melhor, dizia, mas sim nomear aquele que mais nos marcou. Aquele que marca uma fronteira entre qualquer coisa. Só que como estamos sempre entre duas coisas, é normal que também as marcas dessa passagem mudem. Que fronteira é a mais importante? A primeira? A última? Não sei responder. A única resposta possível é que são muitas as respostas. E a que damos é sempre a do momento. Momento que pode ser mais ou menos longo, mas é sempre isso. Um momento.

Tanta coisa para quê? Para dizer faz uns meses me reencontrei com um desses livros. Os contos de Miguel Torga “Bichos”. Já não me recordo se o li primeiro, ou depois, dos “Contos da Montanha” e dos “Novos Contos da Montanha”. Não me recordo se cheguei a ele por um acaso, ou se pela pista das leituras obrigatórias, mas guardei-o na memória. Há qualquer coisa no autor com a qual me identifico sem que a consiga perceber correctamente. Uma comunhão de interesses, uma nostalgia de tempos mais simples, algo mais, não sei? Talvez uma comunhão espacial, em tempos diferentes, porque partilho com ele a alegria de percorrer o Gerês.

Há nos seus livros qualquer coisa de menos que os engrandece. Histórias simples de um país que já não existe. Pequenas histórias do dia-a-dia de gente pequena. Depois, há os livros editados daquela forma simples. Capas banais, sem gravuras e impressas em velhas tipografias. A beleza dos seus livros é serem simples. Livros que valem pelas palavras que as suas letras formam.

Adoro abrir os cadernos com a ajuda de uma faca. O que para muitos é uma chatice, a mim aumenta-me o prazer táctil da leitura. É a certeza que aquele livro é meu. Saber que aquelas letras são pela primeira vez minhas. É um prazer egoísta? Seja, mas no prazer não devemos ser todos um pouco egoístas?

O livro que tenho hoje, comprei-o numa feira, com mais uma série de outros livros do mesmo autor. De “Bichos” comprei mais do que um exemplar para também oferecer. Sei que os contos são considerados literatura menor, mas eu também não tenho paciência para muita da dita maior. E depois há um conto em especial. Um conto que me fez compreender porque gosto de gatos e porque não gosto de algumas pessoas que gostam de gatos. Um conto em que me revejo no que fiz e no que não fiz.

Monday, November 21, 2005

O país esquecido

foto tirada no concelho de Terras de Bouro numa aldeia perto de Brufe
Sair das cidades, entrar nas estradas perdidas, que parecem terem sido abertas para trazer e não para levar, é encontrar um país esquecido. Um país que anda a outra velocidade e se vai despovoando ano após ano. Um país rural sem agricultura porque esta apenas serve primeiro de complemento a outras profissões e depois como ocupação de reformados. É este país esquecido que estamos a perder e que a apenas se torna notícia nos incêndios de Verão. É este país que temos de descobrir.