Tuesday, April 24, 2007

Portela de Leonte - Prados da Messe

No último dia 15 de Abril subi com a AAEUM aos Prados da Messe saindo de Portela de Leonte. Era a segunda actividade que organizávamos e não contava com tanta gente. É verdade que o tempo ajudou, mas a adesão também comprova o interesse que as actividades pedestres estão a despertar.

Entre os 35 caminheiros e caminheiras que responderam ao nosso convite havia diferentes experiências. Mas passo a passo o caminho fez-se. Fizemos a primeira paragem no Mourô para recuperar um pouco do esforço inicial. Há sempre quem procure forçar a marcha acima do seu ritmo e factura pode ser pesada. No trilho o grupo rapidamente se dividia em 3. E competia-me acompanhar o último, mais do que mostrar o caminho importava motivar. É o "já falta pouco" do costume. Na Freza, a paragem foi mais para deixar as pessoas admirar a paisagem sobre o Vale Teixeira. Começo a ter alguma dificuldade em nomear um local preferido na Serra do Gerês, mas recordo da sensação de deslumbramento que aquela paisagem me provocou na primeira vez. Foi alí, e um pouco mais à frente, na Lomba do Pau, os participantes começaram ter do Gerês uma ideia mais real. Ninguém pode pretender conhecê-lo sem subir à serra. O resto é só vê-lo por fora, sem o sentir. É como ler as formas das letras sem chegar a formar palavras.

As mochilas abriram-se no Conho para refeição mais completa e descansar um pouco. Fiquei um pouco a olhar as Fichinhas e a programar a caminhada de descoberta até Fafião. A ideia de descer aquele vale não me sai da cabeça. O caminho Prados da Messe foi rápido e na descida para a Costa Sabrosa decidimos fazer um desvio pelos Prados Caveiros. Em boa hora. O prado, que não conhecia, é muito bonito. O abrigo está derrubado e não há sinais de utilização há muito tempo. No livro sobre a Vilarinho das Furnas, Jorge Dias refere-se a este prado como sendo um dos prados de vacas da aldeia. Com o desaparecimento da aldeia de Vilarinho este prado poderá ter sido deixado ao abandono. Ou, sendo um dos mais afastados, o abandono poderia até ser anterior ao desaparecimento da aldeia com a diminuição do número de vacas.

Na saída deste prado, a vista que se alcança sobre a Ribeira de Monção e Mata da Albergaria justificaria só por si o pequeno desvio realizado. É preciso alguma atenção para o identificar porque as mariolas apenas se adivinham.

Subir a Costa Sabrosa é complicado mas descer não é mais fácil. Descer com sapatilhas pode ser mesmo muito complicado, como constartei em algumas das pessoas que acompanhava. Já estrada, caminhei de regresso à Portela de Lente. Foi a primeira vez que percorri a pé aquele pedaço da Mata da Albergaria. Imaginar ali um incêndio é assustador.

Mais tarde, ao descermos de Leonte para o Gerês, encontramos uma víbora no meio da estrada. Descemos do carro e ficamos a admirá-la. São muito mais pequenas do que as pessoas imaginam. Eu não gosto de cobras, mas entre a emoção de ver a minha primeira víbora em liberdade não senti qualquer medo ou repulsa. Aproveitava o calor do alcatrão no fim da tarde e não parecia interessada em sair de lá. Para evitar que algum carro a esmagasse, com a ajuda de um cajado, retiramo-la da estrada. Fechada no carro uma colega reclamava connosco. Fizemos o que deveríamos ter feito. Naquele local o seu destino seria ficar esmagada.

Friday, April 13, 2007

Pela Serra Amarela nas pegadas de Miguel Torga

percurso imaginado

À cerca de 15 dias voltei à Serra Amarela numa caminhada com o UPB para percorrer os lugares que deslumbraram Miguel Torga. Não posso garantir que o pecurso realizado seja o por ele realizado , mas passámos por alguns dos locais que refere ter visitado em 24 Julho de 1945. Esta caminhada nasceu de uma outra, que fiz com o Tiago e com o Jota. Na altura, por razões de tempo, desistimos de continuar em direcção às antenas da Louriça e ficamos do alto da Serra a olhar para os montes a imaginar a "reparação" do insucesso. Apoiados numa carta antiga procuramos imaginar uma jornada pelas antigas "vezeiras" da aldeia na Serra Amarela. A preocupação não foi "reproduzir" o que o Torga poderia ter feito. A sua motivação teria sido a notícia da existência de um fojo e teria sido essa a indicação dada ao guia que então contratou. Nós queríamos também explorar a zona, passar pelas antenas na Louriça e retornar por sítio diferente. A caminhada serviria, ainda, como teste prático de GPS.

Com o Daniel apareceu com um amigo nascido em Vilarinho que batizamos de Furna. Não habitou Vilarinho mais do que curtos períodos de férias, onde residia o seu avô, mas conhecia bem a serra. Ao longo da caminhada foi-nos contando pequenas histórias sobre factos que desconhecíamos. Uma outra aprendizagem.

A ideia original era subir da aldeia em direcção às Casarotas e fojo, visitar as antenas da Louriça e descer depois por um antigo caminho. Só que para evitar o vento de frente alteramos o sentido de marcha. Eu tinha a memória de uns prados que já não existem. As minhas recordações de um dia ali passado no final da adolescência estavam também "submergidas". Não pelas águas da albufeira, mas sim pelo avançar do mato. Os poucos terrenos de aluvião do vale da Reibeira das Furnas não são de fácil passagem. Um moinho que recordava em campo aberto estava agora rodeado de arbustos. O problema é que o nosso caminho seguia por ali.
Por sugestão do Daniel, desviamos um pouco para a esquerda e seguimos por terrenos onde o mato não cresce. Um pouco à frente a primeira supresa do dia. Junto ao trilho uns garranos olhavam-nos com uma estranha imobilidade. Como eles não se desviavam, desviámo-nos nós. Só o macho, muito nervoso, se afastou. A fêmea manteve-se estranhamente inquieta mas estática. Sem máquina para registar o momento segui. O Daniel ,que ficou para trás, descobriu depois a razão do estranho comportamento. Um pequeno potro, ainda com vestígios do cordão umbilical, que a égua queria proteger e esconder.

É a partir dos 900 metros que a serra se começa a revelar. Há naquelas paisagens uma grandeza que parece vingar a nossa geografia. São montes nús, pedregosos, de uma magestade impoluta. Ali as poucas árvores só crescem nos locais onde algum solo se formou. O resto são fragas que apenas permitem uma vegetação rasteira. Um esqueleto de um garrano afirmava a presença de lobos e no trilho existem muitos vestígios das suas fezes. .

Por sugestão do Daniel evitámos uma subida complicada para as antenas da Louriça. Junto ao muro do termo de Vilarinho há um antigo caminho florestal que parou ali. O Furna contou-nos que este caminho deveria ter seguido para a fronteira da Portela do Homem. Deveria porque não seguiu. A população de Vilarinho impediu a sua progressão. Onde julgava encontrar terrenos baldios, os Serviços Florestais encontraram terrenos registados que ainda hoje pertencem aos herdeiros dos antigos habitantes. O registo dos baldios em nome dos mais velhos da aldeia foi a forma de evitar que, em nome do progresso florestal, perdessem os pastos que asseguravam a sua existência. Essa batalha ganharam, contra o plano hidrográfico nada puderam fazer. A barragem que submergiu a aldeia de Vilarinho serve, essencialmente, de reserva de água da albufeira de Caniçada, com a qual está ligada por um túnel. A água represada no Homem destina-se ao Cávado, mas, como descobri, também armazena água transferida de Caniçada durante a noite.

Num local que as cartas assinalam como Sonhe há vestígios de uns muros que parecem ser de um estranho fojo sem cova. Os animais deveriam ser "empurrados" a precipitar-se numa queda fatal. No estradão que liga a antenas ao Lindoso avistam-se, nas encostas viradas ao Lima, os muros em V de um fojo de grandes dimensões. Seria este o que Torga procurou? Ou seria o de Vilarinho de menor dimensões? Como faz referência a "fojos" terá visitado os dois? Das antenas às Casarotas o percurso foi fácil e rápido. E é naquelas cumeadas, com a albufeira aos nossos pés, que a paisagem mais nos envolve. É como ganhar asas de águia e planar nas alturas.

As Casarotas continuam um mistério por resolver. Eu tenho para mim que serão abrigos de pastores. Possivelmente poderiam ter a dupla função de também serviram de abrigos para defesa da fronteira. Mas a hipótese de serem antigos monumento funerários é também defendida. Para abrigo dos pastores na vezeira bastaria uma ou duas cabanas e ali existem umas duas dezenas, diz quem defende a tese contrária aos abrigos de pastores. Só que também existem conjuntos do mesmo tamanho na Serra da Peneda/Soajo. As brandas de Poulo da Seida e Branda da Cova são apenas dois exemplos. Possivelmente a verdade poderá ter um pouco de todas as teses.

Descedemos depois para a Chã de Cima. Onde o Furna mostrou-nos provas de uma história pouco contada. Ali também se minerou vulfránio, mas a população escondeu a localização das minas. Durante 3 anos dedicaram-se à sua exploração às escondidas das autoridades. Ganhando alguma prosperidade que permitiu acender cigarros com notas.

Quando tudo parecia fácil demais, a última descida reservou-nos as maiores dificuldades. Depois de tentar descer para a Corga de Trás sem sucesso, voltámos ao plano inicial de descer em direcção a Vilarinho. Só que os caminhos não resistiram ao passar dos tempos e não foi fácil.
Mais uma ez, acabámos o dia em frente de um prato de sopa a trocar impressões sobre a caminhada. Numa próxima será melhor descer das Casarotas em direcção a Brufe. É uma descida fácil e evitam-se os sustos da parte final.

percurso relizado