Thursday, September 25, 2008

Um Parque (des)Nacional


Nos últimos tempos não tenho conseguido caminhar tanto quanto desejava. Primeiro o calor, as férias e depois foram festas e casamentos. É uma pena porque, apesar de gostar de assistir aos casamentos de amigos, tenho perdido coisas que gostava de fazer. E uma das coisas que teria gostado de fazer era ter acompanhado o blogue Carris nesta iniciativa. Leio com alguma regularidade este blogue e não conheço muitas pessoas com a dedicação do Rui Barbosa a uma causa. É por isso que entendi que devia ajudar-lo a denunciar esta situação.

Na verdade é uma situação que para mim não é nova. Ainda recentemente escrevi em outro local algo que recupero para aqui com pequenas alterações:

"O Gerês é para mim um local de fuga. Representa uma parte do paraíso perdido. É aí que melhor me sinto e desde que comecei a percorrer a serra nos rastos das mariolas descobri um mundo novo. Caminhar 8 horas pela serra para mim não é nenhum sacrifício, mas sim um enorme prazer. Como gosto de história, comecei a ler sobre o Gerês, sobre o PNPG, sobre os serviços florestais e tudo mais que encontrava. Procuro também falar com todas as pessoas que encontro. Escutar as histórias de quem viveu e vive a serra. Aprendi a respeitar as populações. Nasci urbano e cresci urbano. Tive das zonas rurais a visão do turista domingueiro. Conhecer a serra permitiu-me ver mais. Permitiu-me conhecer o problema das populações. O PNPG teve a vantagem de preservar, mas isso seria apenas o ponto de partida. Depois era necessário desenvolver e isso o PNPG não conseguiu. E não conseguiu porque está asfixiado. Eventualmente, no início pode ter sido uma opção. Há muitos gestores e técnicos do ambiente que possuem uma visão "conservacionista". Na verdade, esses gostavam de ter uma reserva e não um Parque Nacional. Entendem que o homem está a mais. Hoje julgo que será mais pela questão financeira. Acredito que muito dos técnicos dos PNPG gostavam de fazer mais. Só que o dinheiro dá para manter as portas abertas e para pouco mais. O problema será então o mais do subfinanciamento pelo ICNB e menos da gestão. Só que em resultado disso o parque torna-se autista, ainda mais "conservacionista" e "proibicionista". Educar, acompanhar e desenvolver pede meios que não possuem. É mais fácil dizer não. Quem perde? As populações. Há muita gente que não percebe a razão das casas dos guardas estarem abandonadas e os caminhos fechados e degradados, mas pode haver uma estranha lógica nisso. Nas férias, li como as populações cuidaram do estradão pela Bouça da Mó abandonado pelo PNPG. Não pude deixar de pensar se na acção (inação) do PNPG não estava uma tentativa de simplesmente fechar o estradão. Um pouco a exemplo do estradão para os Carris. Resolver o problema da circulação pela degradação do caminho. Li também recentemente a aprovação de projectos para a Serra Amarela e acho que são um sinal de esperança. Espero que seja um sinal de mudança de direcção."

Tuesday, September 09, 2008

O gato pardo

cena de "Il Gattopardo" - Luchino Visconti

Pardo é uma cor entre o branco e o preto. Uma cor nublada que não se define ou escolhe. Uma cor em perpétuo período de mudança. Uma cor adequada aos cinzentos. Uma cor para os que não escolhem para serem os escolhidos. Dizem que é uma cor para os dias de hoje. E muitos gatos já não aguardam pela noite para "empardecer". Tudo isto poderia não passar de um trocadilho fácil com o filme do Visconti, se não fosse motivado em felinos que ronronam com medo de perder os pires de leite.