Friday, February 19, 2010

Ainda sobre o POPNPG



Um dos blogues que tenho por hábito seguir - Carris, de Rui Barbosa - transcreveu uma citação de Tude de Sousa sobre o relacionamento das povoações com a floresta a propósito de um artigo sobre o POPNPG. Mais concretamente sobre a opinião que dele possui a União de Caçadores do Parque Nacional da Peneda Gerês. Tude de Sousa, foi um dos responsáveis pela florestação do Gerês na qual fez uma obra admirável. Deixou ainda escritas algumas obras que foram recentemente reeditadas pela CMTB e cuja leitura recomendo a todos que gostam do Gerês. Só que era também uma das partes do conflito. Ele foi, sem qualquer dúvida, um dos que melhor pensou a Serra, mas era também um funcionário dos serviços florestais. Ele de facto descreve uma relação algo predatório com a floresta, mas essa relação precisa também de ser enquadrada na envolvente cultural e económica.

A citação fez-me recordar uma reflexão que fiz após uma caminhada que fiz na Cabreira com o UPB. Na altura tinha relido o "Quando os lobos uivam" de Aquilino Ribeiro e tinha ainda fresco o discurso do advogado em defesa dos povos da serra.

O que na altura escrevi ganha hoje uma nova actualidade e lamento-o. O comportamento do PNPG e o ICNB acaba por não ser muito diferente do segido pelos serviços florestais. É mais uma vez a força da autoridade, em vez da razão. O enquadramento social é que é hoje diferente. Agora, em vez de GNR manda-se os juristas escrever umas coisas absurdas.

Esta revisão do POPNPG é profundamente errada porque ofende mais uma vez os mesmos. Tenho para mim que a ideia da área "wilderness" é absolutamente ridícula e artificial. A ser constituída só mesmo com o afastamento da povoação. Só que não estamos em Yellowstone, nem estamos no século XIX. De lá para cá as ciências sociais progrediram muito e já nem na gestão ambiental se aceita como boa prática a exclusão da actividade humana. Cada vez mais acredito que o PAN Parks se compreende melhor cruzando-o com as notícias sobre a situação financeira do ICNB. É uma estratégia de fuga para a frente. Um busca desesperada de financiamento. Venham os turistas endinheirados do Norte da Europa parece ser o resumo da estratégia.

Eu, quando reflecti sobre a Serra da Cabreira, terminei a dizer que todos somos Teutónio Louvadeus (a personagem de Aquilino que incendeia o pinhal plantado para se vingar dos Serviços Florestais). De uma forma activa ou passiva, vamos deixando que as coisas aconteçam à floresta. É por isso que considero importante as iniciativas do Rui Barbosa e de todos que fazem um bocado de barulho. É triste que tenhamos que adaptar o discurso que Aquilino pôs na boca do advogado dos povos serranos, um oposicionista, aos tempos actuais, mas é o que temos andado a fazer. O PNPG é que não se deveria hoje comportar como os Serviços Florestais de então. Não está em questão a obra realizada, mas sim a forma como foi feita.

Há um artigo "Parques e Populações: é Possível Conciliar? A Experiência de um Parque Nacional Europeu", de um investigador brasileiro, sobre a relação do PNPG com as populações que é interessante ler. Eu publiquei-o em 12 partes e fiquei surpreendido quando percebi que um dos co-autores era o anterior director do PNPG, na altura ainda em funções. Tratou-se certamente de mais um “The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde”, no caso uma relação estranha entre o académico e o director.

Gostava de acreditar que as motivações transpostas para o POPNPG são da mesma natureza das convicções sinceras de Tude de Sousa em defesa da floresta. Eu não sou contra Teutónio Louvadeus, sou contra o que o faz revoltar.