Monday, October 25, 2010

Uma leitura

Terminei a leitura de “Terras de Bouro — cem anos de adversidades” de José Araújo editado pela CM Terras de Bouro. É um livro interessante, cheio de apontamentos sobre a história do concelho de Terras de Bouro. Como quase todos os livros escritos na primeira pessoa não é neutro. Pode-se até dizer que está repleto de opiniões e julgamentos pessoais do autor. No entanto, é uma leitura interessante para compreendermos as origens remotas de alguma das antipatias das populações para com o PNPG. A verdade é que o Parque Nacional acaba por corporizar a revolta de quem nos últimos 125 anos se viu privado das termas, dos prados, das veigas submergidas e até do Concelho. Razão pela qual não percebo porque razão os que deveriam atenuar estas tensões não assumem essa responsabilidade.

Tenho pelo autor uma simpatia pessoal que não escondo. Contactei com ele algumas vezes, quase sempre na companhia do meu pai, que foi seu condiscípulo no seminário, e guardo dele a ideia de carácter forte e carismático que a notícia sobre a apresentação do livro e homenagem revela. Ideia que saiu mais reforçada pela leitura do prefácio de Viriato Capela.

A notícia, já citada, dizia que o “ideário político e humano de José Araújo confunde-se com essa luta de séculos dos Búrios”. Talvez seja assim. Razão pela qual a sua visão da história e das coisas de Terras de Bouro é fundamentalmente orgânica. Uma história aprendida e apreendida com os “Búrios” a que pertence. Uma história em que participou com diferentes níveis de responsabilidade. Eu, que apenas procuro saber mais sobre a paisagem que tanto admiro, gostei do livro. Ainda que a distância me permita ter sobre algumas das coisas opiniões diferentes.

Wednesday, October 20, 2010

O orçamento

Circula por aí um texto, atribuído a Rui Barbosa (1), que gostava de citar a propósito do Orçamento. A lenda diz que estando no quintal um ladrão a roubar-lhe uns patos aproximou-se vagarosamente e, surpreendendo-o, quando este tentava pular o muro, disse-lhe:

Oh, bucéfalo anácrono! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo acto vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à quinquagésima potência que o vulgo denomina nada.

Há quem acrescente que o ladrão terá respondido - Resumindo, eu levo ou deixo os patos?. Pergunta que não espero que me façam.


(1) outros a Bocage.

Monday, October 18, 2010

Os cornos da Fonte Fria



Desde que os vi, desde a capela de S. João da Fraga, que os queria visitar. Primeiro foi o rendilhado que faziam no horizonte que me atraiu, depois percebi como estavam ligados com a história do Barroso. Era por lá que os monges se diriguiam a Espanha e terá sido lá que morreu Fr. Gonçalo Coelho ao retornar de Santa Maria de Cela (Espanha).

No último fim de semana pude finalmente conhecer-los. Os meus companheiros e companheiras de caminhada guiaram-me por caminheiros de pé posto desde a Fraga de S. João. Caminhos que infelizmente se vão perdendo da memória dos homens ao ritmo do crescimento da vegetação. No regresso optamos pelo caminho que o Padre Fontes publicou no seu site e que seria o caminho de Fr. Gonçalo Coelho:

"Saia do Eiró, largo social da aldeia, beba na fonte ao lado, abasteças-se de pão, presunto, chouriça, um cajado e bom calçado, de borracha, se for a pé. Pode também ir de carro, ou a cavalo. Passe pelo forno do povo, todo coberto a granito e compre lá uma broa escura que sabe pela vida. Dirija-se ao alto da aldeia, pela casa fiscal, pela ribeira de Valongo. Pode ir de carro até à fraga de espinheira. Siga a pé, atravesse a ribeira dos Fornos, contorne a Fraga de Burzaleite(1413) e está em Fonte Fria. Suba fácil até aos píncaros e cornos de Fonte Fria, 1456 m, que também fazem fronteira com Espanha. Veja as enormes fragas de Espinheira, Burzaleite, Carvalhosa, Roca Sandeia. Faça escalda com amigos. Cheire a vegetação de aroma intenso, a urze rocha, a giesta branca e amarela, o sabugueiro, a carqueija. Entre Maio e Julho, descubra a 1500 m, os lírios do Gerês, únicos no mundo. Beba água em todas as fontes, coma arandos entre as fragas, apanhe chás dos melhores do mundo, de hipericão, de carqueija, giesta banca, urze, abetónica, teixo, erva erótica da Rita, etc."

Não subi aos píncaros. Fiquei-me na "segurança" de uma plataforma na face Norte a menos de 2 metros do topo. A subida até teria sido fácil, mas não confiei na descida. Numa nova oportunidade talvez me cresçam as asas de Ícaro...

Na aldeia cumpri os rituais de comprar pão e lanchar no Preto. Já tive a sorte de comer pão de Pitões cozido no forno da aldeia, mas agora é feito numas instalações na zona alta da aldeia.
No Preto ficamos um pouco a conversar com os donos do restaurante sobre a história de Pitões e temas da actualidade. A zona é cada vez mais procurada para caminhar e o restaurante é um ponto de encontro de todos os caminheiros. Grupos de estrangeiros fazem da Casa do Preto base para dias de caminhadas na região. Chegam a estar 5 dias em Pitões. Os trilhos que fazem são basicamente os que todos fazemos e cada vez menos se percebe a sanha persecutória com que nos ameaçam. Um Parque Nacional existe para ser visitado e para ser usufruído. Fechado não interessa a ninguém. Não tenho nada contra a regulação, mas nunca perceberei a proibição ou taxação. Principalmente se ela tiver motivações unicamente económicas/orçamentais ou para interesses de actividades comerciais.

Sunday, October 10, 2010

20 anos

Grupo à porta do hotel em Leningrado com os estudantes Russos

Na ponte de Carlos em Praga Interior do autocarro em viagem

Há 20 anos tive a sorte de me meter, com mais 52 colegas da universidade, num autocarro de 2 andares da Caima e percorrer a Europa até à URSS (ainda era assim). Esses dias, particularmente os 5 passados em Leninegrado (actual S. Petersburgo), serão sempre uma das viagens da minha vida.

O autocarro viajava de noite e tentavamos enganar o sono na posição menos desconfortável que encontrassemos. As manhãs revelavam sempre outro país, outra língua, outra moeda. Chegados a cada novo local os motoristas iam dormir e às 24 horas o autocarro seguia novamente viagem. Os dias eram para nos aventurarmos nas cidades. Tomar banho foi em piscinas, saunas e estações de comboio e quando tivemos sorte. Todos prescindimos das condições de conforto em nome da aventura.

França, Alemanha, Holanda, Dinamarca, Suécia, Republicas do Báltico (que já tinham saído da URSS), Polónia, Checoslováquia foram os países onde paramos.

Na URSS ainda governava o Gorbachev, mas já se percebia muito do se veio a passar depois. Na Universidade local a estátua de Lenine estava vandalizada, nos quartos das residências de estudantes cantavam-se baladas do exército branco e afirmava-se com orgulho nacionalidades diferentes da soviética.

O Muro de Berlim tinha caído no ano anterior e a unificação da Alemanha tinha-se oficializada poucos dias antes da nossa partida. A Europa estava a mudar e nós estivemos 5 dias no meio do furacão. As emoções que a viagem despertou não são fáceis de escrever e fico-me pelo registo da data.

Vinte anos depois reunimos parte dos 53 que participaram viagem. Foram muitos os que responderam à chamada. Entre fotografias e vídeos, que nos preservaram para memória futura, recuperamos do baú das preciosidades algumas gravações de um programa com que a Rádio Universitária do Minho cobriu a viagem.



alguns dos presentes 20 anos depois

VIAGENS DA TERRA DOS OUTROS, 04.mp3
VIAGENS DA TERRA DOS OUTROS, 05.mp3
VIAGENS DA TERRA DOS OUTROS, 06.mp3
VIAGENS NA TERRA DOS OUTROS, 07.mp3
VIAGENS DA TERRA DOS OUTROS, 08.mp3
VIAGENS NA TERRA DOS OUTROS, 11.mp3
VIAGENS NA TERRA DOS OUTROS, 12.mp3
VIAGENS NA TERRA DOS OUTROS, 13.mp3
VIAGENS NA TERRA DOS OUTROS, 15.mp3
VIAGENS NA TERRA DOS OUTROS, 16.mp3
VIAGENS NA TERRA DOS OUTROS, 18.mp3