Encontrei-a, finalmente, na tarde do último Sábado. O dia tinha amanhecido chuvoso e depois do pequeno-almoço ficámos na Taberna Celta à lareira. Lá fora, dia não estava para caminhadas e foi difícil abandonar o conforto do fogo. Em volta da lareira, tivemos ainda a sorte e oportunidade de trocar informações com um cliente habitual da taverna. Sobre o carvalhal havia um denso manto de nevoeiro que apenas a espaços abria. Pousadas numa mesa, umas cartas militares da zona permitiam-me recordar as caminhadas que já fiz por ali, mas essencialmente recordavam-me as por fazer e a aldeia por descobrir.
ruínas de uma casa de planta quadrangular
vestígios da limpeza efectuada recentemente
Na zona mais elevada da aldeia encontrámos sinais de uma limpeza recente conforme nos tinham referido na aldeia. Como foi feita pelos bombeiros, julgo que terá sido feita como prevenção contra incêndios. No entanto pode ser também sinal que a sua visitação está mais próxima. O tempo chuvoso não nos deixou apreciar toda a beleza da aldeia, mas subimos ao alto dos blocos de granito que serão o chamado castelo. No alto encontramos a famosa cruz de pedra e umas inscrições. Não ficamos muito tempo, as nuvens sobre a capela de S. João anunciavam a chuva que rapidamente nos alcançou. Espero voltar lá com mais tempo e investigar outros caminhos.
pequena cruz de pedra no alto do castelo
entalhes na rocha da pequena atalaia (?)
Descrição arqueológica* : Povoado abandonado com arruamentos lajeados e vestígios de cerca de 40 casas, de planta geralmente quadrangular e paredes de blocos graníticos mais ou menos aparelhadas, muitas ainda com umbrais e soleiras das entradas. Poderá tratar-se da aldeia medieval de Sancti Vincencii de Gerez referida nas "Inquirições Afonsinas" de 1258, provavelmente abandonada no século XV, tempo de fomes, pestes e guerras. Nunca mais seria reocupada, podendo aceitar-se que tenha sido substituída pela aldeia de Pitões das Júnias. O lugar encontra-se actualmente coberto por um frondoso carvalhal espontâneo, com a vegetação a conferir às ruínas uma beleza pouco vulgar. No extremo setentrional do povoado, no topo de um pequeno outeiro coroado por caos de blocos graníticos, a que a população chama "castelo", identificam-se alguns rasgos que desenham uma planta quadrangular com cerca de 2 metros de lado, vestígios que poderão corresponder a uma pequena atalaia. Um pouco mais longe, cerca de 1,5 km para Sudeste, fica o mosteiro de Santa Maria das Júnias. Em termos arqueológicos conserva-se tudo em bom estado.
Interesse : Trata-se de um monumento de inegável significado histórico regional e excepcional valor científico e patrimonial, cujo estudo é fundamental para o conhecimento da evolução do povoamento medieval na vertente nascente do maciço geresiano. As ruínas desta aldeia abandonada enriquecem-se ainda com a paisagem envolvente, marcada por exuberante cobertura vegetal e relevos vigorosos. No Plano de Ordenamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês foi proposta a classificação do "Povoado de Juriz" como Monumento Nacional.