Wednesday, March 28, 2007

Pedrada


Domingo, 4 de Março

A primeira tentativa de explorar o percurso que queremos fazer com a AAEUM foi frustrada por um forte temporal, mas resultou em preciosas indicações. No Café Central (Rouças) estivemos a falar com algumas pessoas sobre o que queremos fazer. O caminho já só existe em parte, mas há gado a subir diariamente para prados que o vai mantendo aberto.

A ideia de realizar actividades de pedestrianismo já era antiga e resolvemos iniciar com uma caminhada em zona conhecida. Queremos associar à actividade uma componente cultural. Entre caminhadas com diferentes graus de dificuldade, queremos que sirvam para a descoberta de paisagens, património e tradições.

Escolhemos a Peneda porque permitia associar uma das mais belas paisagens minhotas com um património rico em construções e tradições. Com o Trilho das Brandas (um PR) como base, procuramos soluções que o enriquecesse e tornasse mais atractivo. Sabíamos que isso lhe aumentaria o grau de dificuldade, mas a intenção era também não defraudar os que gostam de caminhar. Traçamos o percurso com o apoio de uma carta antiga e a memória de relatos de trilhos tradicionais. Queremos subir pelo trilho marcado até ao fojo e daí continuar para a Pedrada. Descer depois para a Naia e voltar por um antigo caminho que parece já não existir. As descidas são acentuadas mas parecem possíveis. Do fojo à Pedrada não será complicado e existem relatos da ligação à Pedrada desde a Naia. Faltava apenas descobrir como descer para Rouças.

Como não pudemos caminhar, subimos por um estradão junto ao miradouro de Tibo. Só mesmo o jipe do Tiago poderia subir por ali. No final devemos estar a pouco mais de 2 kms da Pedrada, mas a uma cota muito inferior. O nevoeiro não nos permite ver nada. Nas fragas a água forma cascatas impressionantes. É um espectáculo de belo e puro. Só a natureza nos aproxima da verdade.

Aproveitamos para dar uma volta pela Serra da Peneda. Almoçámos na Branda da Aveleira onde existem marcas de um trilho PR. O Tiago quis ainda passar por Castro Laboreiro, o chamamento do sangue. Num café a senhora descobriu-lhe a ascendência e despede-se com um "traga mais gente". Apesar das novas construções há qualquer coisa que ali morre por dentro. Daí o chamamento em forma de apelo.

Sábado, 10 de Março

Voltei a Rouças para reconhecer a parte do percurso que desconheço. Comecei a caminhar tarde, já depois do almoço, pelo que sinalizei a minha presença no Café Central. Assim, sabiam para onde ia e a quando devia regressar. Vou caminhar a solo, coisa que detesto fazer por razões de segurança. Já ninguém usa o regularmente o caminho que vou fazer. Hoje é mais a ideia do percurso que resiste.

O caminho começa com uma forte inclinação e piso muito mau. Um pouco à frente comecei a seguir um caminho diferente. Avancei durante algum tempo a uma cota muito inferior à pretendida. Fui enganado pela existência de um outro caminho. Corrigi a rota pelo mato. Ao longe o fojo mostra-se. Decidi avançar até às 16h30. Pouco depois do final de um estradão encontrei um pequeno prado com um conjunto de cortelhos. No topo da encosta há uma enorme mariola que me indica o caminho para cima. A inclinação é grande e o terreno é de mato queimado. Efeitos do incêndio de Agosto. Da mariola à Pedrada serão pouco mais de 2000 metros. Depois de uma segunda mariola, no Outeiro Maior, desviei-me para a minha direita de forma a reconhecer o caminho para o fojo.

Desço pelo mesmo local. A orientação é agora mais fácil. A uma cota elevada podemos ir escolhendo o caminho. Numa zona de mato fechado segui gado que descia dos pastos. Quando se apercebem da minha presença simplemente param. Ultrapassei-os a uma distância segura e segui o caminho pelo mato. Nem sempre muito claro. Cheguei ao café perto da hora estimada onde faço um pequeno lanche. Estou cheio de dúvidas sobre o trajecto a realizar amanhã mas não me apetece voltar pelo mesmo local.

Domingo, 12 de Março

O local de encontro era nos Arcos, quando nos encontramos com o resto do grupo já era um pouco tarde. No total somos 18 pessoas com ritmos muito diferentes. O Tiago foi à frente e eu fui ficando com os últimos. Até a Gorbelas as dificuldades não são grandes. Custa um pouco a aquecer mas ao ritmo de cada um todos chegamos lá cima sem grandes problemas. A subida até ao Poulo da Seida é umas das partes mais bonitas. A parte inicial assusta, só que rapidamente se percebe que é curta. A vista sobre os campos em terraços é magnífica. O Poulo da Seida em conjunto com branda junto ao Guidão, que no UPB batizámos de “Vale Encantado”, e que eu desconfio tratar-se do Curral Cova, são as brandas de gado mais bonitas que conheço.

Depois do almoço seguimos para as Lamas do Vez e Fojo. O tamanho do fojo surpreende, o esforço realizado para a sua construção impressiona. É uma medida da “luta” travada pelos povos da montanha com o predador. Justificava-se? Não sei. Prefiro não julgar a história. A todos hoje nos é dificil imaginar a vida naquelas montanhas. Se hoje aquelas povoações são ainda locais ermos, o que seriam em tempos mais remotos, sem estradas, com um clima muito mais frio, com neves que perduravam até bem tarde.

Do fojo continuamos para a Pedrada e descobrimos que existem marcas PR que nos guiam. No Natal, quando fui comer o Bolo-Rei à Pedrada, já tinha detectado uma marca mas só agora confirmo que pertencem ao PR Trilho das Brandas.

Descemos atravessando a Corga da Baja em direção ao prado que agora sei chamar-se Muranho. Perto de Rufe, que seriam os prados altos de Tibo, o grupo separa-se em dois. Uns seguem por Topete e eu sigo com os restantes até à estrada. A inclinação da parte final, e o mau piso, poderia ser muito perigosa para os que não estavam de botas.

Juntamo-nos no Café Central para retemperar as forças e voltar a Braga. No café volto a recolher informações sobre percursos alternativos. No Muranho pareceu-me ser possível seguir para Gorbelas. Seria uma forma mais simples de terminar.

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