Thursday, November 15, 2007

Serra d'Arga


A Serra d’Arga era um local que já tinha sinalizado para uma caminhada. Os percursos que conhecia eram invariavelmente curtos, coisas para poucas horas. Percursos de quem gosta de subir à montanha e descer para comer à mesa.

O percurso que realizei com a AAEUM foi o mesmo de uma caminhada realizada pelo UPB. Caminhada na qual não participei, mas da qual recolhi opiniões muito positivas. Ao preparar esta caminhada descobri coisas muito interessantes. Já conhecia a lenda da princesa cristã que teria procurado protecção contra a ira paterna nestas serras e a baptizado de Agro. Desconhecia as outras que encontrei. As montanhas foram, e são ainda, muitas vezes associadas ao mágico e ao sagrado. As lendas e histórias sobre a serra relatam bem quanto antiga é essa ligação. Talvez por isso as montanhas minhotas estão pejadas de santuários, capelas ou simples cruzes. Como minhoto já não estranho, mas nada me podia preparar para a capela da Sra do Minho. Sem medo das palavras, devo dizer que é uma coisa feia que nunca deveria ter sido construída. A Igreja Católica deveria ter mais cuidado com os projectos arquitectónicos que autoriza. Deveríamos ter muito mais cuidado com o património que estamos a deixar para o futuro. Aquele projecto desqualifica a cultura do nosso tempo. Foi apesar de tudo a nota menos positiva numa caminhada que me deixou cheio de vontade de voltar.

Começámos a caminhar em Cerquido um pouco mais tarde do que pretendíamos. Pessoalmente sentia os efeitos do magusto do UPB do dia anterior. Tinha-me levantado com algum esforço. Por um caminho antigo subimos até à Chã Grande, o ponto mais elevado da caminhada. Deste local alcança-se uma vista única sobre o Vale do Lima. É também aqui que se encontra a capela da Sra do Minho. A subida é por uma encosta nua, que se sobe ao ritmo que as pernas permitem. Ainda que o desnível possa assustar os menos preparados, lá em cima a vista sobre o vale do Lima é fantástica. Recompensa largamente o esforço. A Serra d’Arga não é uma serra elevada, está cheia de torres eólicas, mas vale a pena caminhar por ela. É uma serra bastante despida de vegetação. A sua mata original forneceu os estaleiros de Viana do Castelo e permitiu as nossas aventuras marítimas. Na década de 40 de século passado os serviços florestais também andaram por aqui. Como em outros locais, a florestação, à base de pinheiro, provocou profundas mudanças sociais. As aldeias de Arga, viram partir as suas gentes. Incêndios na década de 80 terão afectado profundamente o coberto florestal. Diversos grupos de garranos cruzam-na em liberdade. Deve ser mesmo o local onde é mais fácil encontrar garranos. Eu nunca tinha encontrado tantos em tão pouco tempo.

Rapidamente atravessámos o planalto e fomos almoçar ao Mosteiro de S. João d’Arga. Um local que merece uma visita mais prolongada. O seu enquadramento é fantástico. As enormes árvores no terreiro mosteiro, tão integradas com as construções, são símbolos de uma comunhão com natural que perdemos. A sua fundação é muito antiga, são séculos de história que se contam naquelas paredes. Mais de 10. O mosteiro é uma construção simples de dois pisos, duas alas de hospedarias, formando dois L's opostos, com a capela no meio. Em Arga de Baixo, uma senhora falou-me sobre a festa de S. João. Já tinha escutado muito sobre esta romaria. Na universidade um colega de Caminha disse-me que trocava todos os festivais de Verão por ela. Uma noite longa e profana que atrai gente de todo o lado.

Em Arga de Cima e Arga de Baixo paramos a conversar com grupos de senhoras que se aqueciam ao sol. Trocámos pouco mais que palavras de circunstância. Com umas a admirar os galináceos em liberdade, fortes e apetitosos como poucos, e a responder sobre de onde vínhamos e para onde íamos. E com outras pedindo informações sobre outros caminhos e sobre as romarias da serra. Sempre que posso gosto de ter estes momentos de conversa. São sempre recompensadores. Há sempre alguma coisa que fica. Pequenas expressões de uma genuinidade que a cidade perdeu.

À saída de Arga de Baixo perdemos mais algum tempo a admirar uns moinhos antigos e para procurar o Pontão do Lobo. Conheço-o apenas de fotografias, mas ainda não foi desta que o encontrei. Regressámos a Cerquido pouco tempo antes do dia terminar. A caminhada não tinha sido muito exigente, mas tinha deixado em todos vontade de voltar.

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