Numa recente caminhada pela Serra Amarela comprovei como é importante estarmos atentos aos pormenores da paisagem. As serras do PNPG guardam muitos segredos e é bom manter a curiosidade. Haverá sempre alguém com quem possamos aprender e felizmente vivemos uma época em que a partilha de informação está facilitada.
É por isso que gosto de caminhar com companheiros que associam ao exercício físico outras componentes. O João Vieira, aka Maka, e o Fernando Fontinha , aka Truka, são dois desses companheiros. Caminhar com eles é sempre mais do que ir e voltar. Há sempre qualquer coisa de descoberta, que tanto pode ser a exploração de um caminho de uma carta antiga como a procura de um local perdido na memória do tempo. Como eu gostam de interpretar a paisagem e saber mais sobre os locais por onde caminham.
É por isso que gosto de caminhar com companheiros que associam ao exercício físico outras componentes. O João Vieira, aka Maka, e o Fernando Fontinha , aka Truka, são dois desses companheiros. Caminhar com eles é sempre mais do que ir e voltar. Há sempre qualquer coisa de descoberta, que tanto pode ser a exploração de um caminho de uma carta antiga como a procura de um local perdido na memória do tempo. Como eu gostam de interpretar a paisagem e saber mais sobre os locais por onde caminham.
Marco de Anta - face virada a sul
Marco de Anta - face virada a norte
Marco de Anta - face virada a este
(fotografia de Maka)
A surpresa apareceu-nos numa portela junto a Carvalhinha e na forma de um marco cheio de gravações em todas as faces. Inicialmente, devido à sua localização numa portela e perto dos limites dos concelhos de Terras de Bouro e Ponte da Barca, julguei tratar-se de um antigo marco divisório (ou de termo).
Mais tarde, na ASSOCIAÇÃO PÉD'RIOS (Germil), informaram-me que se trataria de um vestígio do megalítico e a toponímia registada na carta nº30, Marco de Anta e Lomba de Anta, parecia confirmar essa informação. Infelizmente não me conseguiram dar mais elementos.
vista sobre o marco
Mais tarde, na ASSOCIAÇÃO PÉD'RIOS (Germil), informaram-me que se trataria de um vestígio do megalítico e a toponímia registada na carta nº30, Marco de Anta e Lomba de Anta, parecia confirmar essa informação. Infelizmente não me conseguiram dar mais elementos.
localização do Marco de Anta (carta nº30)
No relatório de caracterização do património histórico-arqueológico do PNPG, parte do processo de revisão do POPNPG, não encontrei qualquer informação sobre o Marco de Anta.
No site do PR Megalitismo de Britelo (PNPG) encontrei uma referência genérica ao Megalitismo na Serra Amarela:
Toda a serra Amarela foi ocupada desde tempos remotos, conhecendo-se hoje vestígios dessa ocupação. Da Idade do Ferro ficaram vestígios do castro da Ermida; da época romana encontramos os povoados de Bilhares, da Torre Grande e do Cabeço do Leijó e a estátua conhecida por Pedra dos Namorados. Em Britelo são as necrópoles megalíticas (conjunto de monumentos funerários) que assumem um maior destaque e cujos diferentes núcleos poderá conhecer.
Finalmente, num artigo publicado na Revista de Ciências Históricas, Universidade Portucalense, Vol. III, 1988, pp 11-24: "O Menir de Marco de Anta (Ponte da Barca), de Silva, E.J.L.; Silva, E.M.M.; Ribeiro, J.D.A., encontrei a informação que buscava sobre o local.
De acordo com o autores, o marco poderá ter sido em épocas recentes aproveitado para balizar os limites de territórios e importava comprovar se o menir terá tido sempre a sua implantação atual. No entanto, tudo aponta que seja pré-histórico e que tenha sido objeto de culto litolátrico.
As cruzes, ainda que por vezes apareçam ligadas a marcas territoriais ou como símbolos de cristianização, num esconjuro de cultos pagãos, serão no caso cruciformes ligados à arte rupestre de ar livre, de cunho pré-histórico. Até porque em algumas faces também são visíveis alguns "fossetes" que reforçam a datação como sendo do megalítico.
Nas pesquisas encontrei ainda referências a um monolítico designado por "Pedra das Cruzinhas" que apresenta semelhanças enormes nas gravações cruciformes. Sobre a Pedras das Cruzinhas considera-se que:
A associação de motivos, cruciformes simples, covinhas e antropomorfos, que se observa na Pedra das Cruzinhas não constitui novidade, sendo muito comum na arte rupestre do território continental, principalmente na chamada área noroeste. Porém, no “nosso” exemplar não se observam outros motivos comuns em conjuntos similares, como antropomorfos em phi, antropomorfos com mãos figuradas, cruciformes com base triangular ou circular, formas geométricas variadas, ferraduras, podomorfos e alfabetiformes, indicando a reduzida diversidade iconográfica da Pedra das Cruzinhas e, quiçá, uma menor dispersão temporal. Contudo, a monotonia que lhe poderia ser conferida pelo domínio dos cruciformes simples é quebrada pelas inúmeras coalescências, laterais e verticais, entre esse tipo de figuras, aspecto comum a muitos outros conjuntos estudados no território português.
Quando e que funções desempenhou a Pedra das Cruzinhas com as suas múltiplas gravações? Esta é a pergunta de resposta mais difícil.
Quanto à sua antiguidade seria sensato escudarmo-nos nas indecisões e nas disparidades de opiniões (22) acerca do tempo das figuras cruciformes, ora consideradas como representações antropomórficas, pré-históricas ou proto-históricas, ora assumidas como marcas medievais ou modernas, seja de cristianização de sítios de antigos cultos pagãos, seja de materialização e confirmação de limites de territórios.
No caso da Pedra das Cruzinhas não rejeitamos esta última hipótese, a de ter servido como marca de termo, mas apenas como sucedâneo ou reutilização moderna, resultante da circunstância da pedra se situar em local sobre o qual foi estabelecido o limite administrativo que hoje separa a Guarda do Sabugal. E o facto de não termos datas, que melhor poderiam indicar momentos de confirmação dessa fronteira, não impede que a Pedra das Cruzinhas tivesse desempenhado tal função. As confirmações de limites, documentadas em inúmeros locais, alguns dos quais já citados neste texto, têm um exemplo bem próximo, no concelho da Guarda, no sítio do Fontão, num conjunto de afloramentos gravados com cruciformes, três datas (1700, 1699, 1855) e uma legenda nomeando a freguesia de Vela (Caninas et al, 2008).
A densa carga gráfica inscrita na Pedra das Cruzinhas tem de ter outra explicação primordial, talvez fortemente ritual. Seria tentador estabelecer, também aqui, uma periodização dos grafismos, invocando uma antiguidade pré-histórica (tardia) ou proto-histórica para o antropomorfo ictifálico, juntamente com as covinhas (23) situadas no topo da peça, remetendo os restantes cruciformes para momento posterior. Invocar o contexto proto-histórico (24), expresso na rede de povoamento referida no início e na proximidade do sítio (atalaia?) do Cabeço da Figueira, ao qual se acederia passando junto da Pedra das Cruzinhas, também não é fundamento suficiente na atribuição de cronologia proto-histórica ao monumento em apreço. A prudência aconselha-nos a procurar resposta a estas questões mediante a escavação do local de implantação da Pedra das Cruzinhas, na busca de outros dados, bem como do montículo situado nas proximidades, para confirmar se corresponde a uma sepultura pré-histórica.
No caso do Marco de Anta a toponímica adjacente (Lomba de Anta) sinaliza a existência próxima de uma sepultura pré-histórica.
desenho técnico do menir - Maria Teresa Fonseca
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