Thursday, August 30, 2007

Lobos e outras histórias


Avistar um lobo era algo que desejava há muito. Sabia que as probabilidades eram reduzidas. Os lobos são animais muito inteligentes e raramente se deixam avistar. Numa actividade da Ecotura, percorri o Planalto de Castro Laboreiro com Pedro Alarcão e a Anabela Moedas, autores do documentário sobre o Lobo da RTP. Nessa ocasião escutei algumas das histórias sobre o lobo e sobre a gravação do seu documentário. Fiquei a conhecer um pouco melhor o lobo, a sua organização social, os mitos e a sua relação com o homem. Aprendi também a respeitá-lo mais. No último ano oor diversas vezes encontrei vestígios de lobo nas caminhadas. E numa caminhada da AAEUM um colega avistou um lobo, mas estava muito distante para também o ver. Sábado passado a minha sorte mudou.

Numa caminhada de reconhecimento do planalto de Castro Laboreiro, com um pequeno grupo do UPB, vi o meu primeiro lobo. A nossa ideia era apenas reconhecer um terreno fácil para uma caminhada nocturna, mas aproveitámos também para subir ao Giestoso. No regresso, em terreno aberto, um colega dá o alerta. Um pouco à frente, um lobo juvenil tinha saltado e fugia velozmente. Acompanhei-o por entre o mato até desaparecer numa lomba do terreno. Nunca o vi por inteiro. Apenas o deslumbrei por entre a vegetação. Mas o dia já estava ganho.

No planalto também avistámos o voo de duas aves que nos pareceram águias. As fotos que tirei não permitem a sua identificação.

O pré-programa da caminhada nocturna metia uma feijoada oferecida por um casal do UPB , o Coura e a Tília. A festa prometia ser rija. No final da tarde a chuva parecia querer estragar a programa. O jantar, que seria na zona de lazer de Lamas de Mouro, foi transferido para um café de uns senhores simpáticos que nos abriram as portas. A meio do jantar já agradecia a chuva porque me parecia impossível caminhar depois da feijoada. Só que chuva parou e a vontade de colocar as botas no trilho foi superior. Escolhemos um trilho mais fácil e fomos caminhar pelos estradões do planalto. No único momento de hesitação valeu-nos encontrar um jipe que percorria o planalto. Algumas indicações e rapidamente nos orientámos. No final ainda ficámos um pouco à conversa até o cansaço nos aconselhar a regressar.

Chegar a Braga foi mais complicado. O cansaço era grande. Eu inicialmente tinha decidido pernoitar em Lamas de Mouro, mas a chuva fez-me mudar de planos. Cheguei a casa com a luz do dia.

Friday, August 24, 2007

Miguel Torga e o Minho

Miguel Torga não gostava do Minho. Esta afirmação possui algum fundamento, pois por diversas vezes ele o escreveu. São diversas as entradas no seu Diário que reflectem esta antipatia. Só que foi claramente uma relação de amor/ódio.

Miguel Torga era um homem da montanha. Um homem com raízes nas fragas e dava-se mal com o verde o Minho. De certa forma foi uma relação marcada pelo eterno conflito do homem da montanha com o homem da ribeira. Para ele as "cangas lavradas e coloridas que ofendiam as molhelhas do suor verdadeiro", as festas "encandeavam a lucidez dos sentidos" e não partilhava da religiosidade de um povo "a cantar o Avé atrás do cura da freguesia".

No documentário que a RTP exibiu António Barreto disse que tinha conhecimento que o Miguel Torga teria dito coisas boas sobre Coimbra, onde escolheu viver, e sobre a Universidade de Coimbra, onde se formou, mas que nunca as tinha escutado ou lido. Pelo contrário, são conhecidas algumas opiniões bastante azedas sobre ambas. Do Minho sabemos que por cá passou diversas temporadas e que o percorreu. Um dos maiores capítulos do seu livro Portugal é mesmo sobre o Minho. Maior somente o capítulo sobre o seu Reino Maravilhoso: Trás-os-Montes.

Como minhoto teria naturalmente preferido escritos mais simpáticos, mas há que reconhecer que pelo menos em parte teria razão.

Como convite à leitura fica um pequeno excerto do Portugal de Miguel Torga:

"Desanimado, meti para Castro Laboreiro à procura dum Minho com menos milho, menos couves, menos erva, menos videiras de enforcado e mais meu. Um Minho que o não fosse, afinal. Encontrei-o logo dois passos adiante, severo, de curcelo e carapuça.

A relva dera finalmente lugar à terra nua que, parda como o burel, tinha ossos e chagas. O colmo de centeio, curtido pelos nevões, perdera o riso alvar das malhadas. Identificara-se com o panorama humano, e cobria pudicamente a dor do frio e da fome. Um rebanho de ovelhas silenciosas retouçava as pedras da fortaleza desmantelada. E uma velha muito velha, desmemoriada como uma coruja das catacumbas, vigiava a porta do baluarte, a fiar o tempo. Era a pré-história ao natural, à espera da neta.

Ó castrejinha do monte,
Que deitas no teu cabelo?
Deito-lhe água da fonte
E rama de tormentelo.

Bonita, esbofeteada do frio, a cachopa vinha à frente dum carro de bois carregado de canhotas. Preparava a casa de inverno para quandochegasse a hora da transumância e toda a família —pais, irmãos, gados, pulgas e percevejos— descesse dos cortelhos da montanha para os cortelhos do vale, abrigados das neves.

– Conhece esta cantiga?
– Ãhn?

Falava uma língua estranha, alheia ao Diário de Noticias, mas próxima do Livro de Linhagens do Conde de Barcelos.

– É legitimo este cão?
– É cadela.

Negro, mal encarado, o bicho, olhou-me por baixo, a ver se eu insistia na ofensa. O matriarcado teimava ainda...

– A Peneda?

A moça apontou a vara. E, como ao gesto de um prestidigitador, foram- se desvendando a meus olhos mistérios sucessivos. Todo o grande maciço de pedra se abriu como uma rosa. A Peneda, o Suajo e o Lindoso.Um nunca mais acabar de espinhaços e de abismos, de encostas e planaltos. Um mundo de primária beleza, de inviolada intimidade, que ora fugia esquivo pelas brenhas, tímido e secreto, ora sorria dum postigo, acolhedor e fraterno.

Quando dei conta, estava no topo da Serra Amarela a merendar com a solidão. Tinham desaparecido de vez as cangas lavradas e coloridas que ofendiam as molhelhas do suor verdadeiro. A zanguizarra dos pandeiros festivos e as lágrimas dos foguetes já não encandeavam a lucidez dos sentidos. Os aventais de chita garrida davam lugar aos de estopa encardida. Nem contratos pré-nupciais ardilosos, nem torres feudais, nem rebanhos de homens pequeninos, dóceis, a cantar o Avé atrás do cura da freguesia. Pisava, realmente, a alta e livre terra dos pastores, dos contrabandistas e das urzes. As pernas de granito dum velho fojo abriam-se num grande V, como as dum gigante no sono da sesta. E saltou-me vivo à lembrança o instantâneo de Joaquim Vicente Araújo, quando no seu Diário Filosófico da Viagem ao Gerês fala duma batida aos lobos, que presenciou, e em que toda a população masculina do lugar colaborara: «Era cousa de ver a má catadura duns e a presteza de todos, que descalços, outros de socos, armados desciam pelas fragas». Sem a coragem dos avós, agora os habitantes comunitârios de Vilarinho da Furna atacavam as alcateias a estricnina e caçavam corças furtivamente. Mas mesmo assim nao faziam má figura ao lado do rio Homem, que, talvez a querer justificar um nome que a etimologia lhe nega, parecia um lavrador numa leira de pedras, tenaz em todo o percurso, e sempre límpido, a espelhar o céu. Na margem de lá, o Pé do Cabril, solene, esperava a abraço duma ascensão. E coma a desafiar aquela pétrea majestade, arrogante e lustroso, o toira do lugar roncou de uma chã. Símbolo tangível da virilidade e da fecundação, nenhum outro deus, ali, tinha forças para o destronar. Plenitude encarnada do instinto natural de preservação da seiva capaz de se multiplicar em cada acto de amor, era ele o pólo de todos os cultos cuItos e desvelos. Rei já no tempo das casarotas megalíticas que me rodeavam, continuava a sê-lo ainda no presente por exigência e graça da própria vida.

Atravessada a ponte em corcova, galgados os muros ciclópicos da Calcedónia, numa erudiçao feita à custa dos pés, e guiado pelos miliários imperiais, segui a geira romana até chegar à Portela do Homem, onde as legiões invasoras pareciam aquarteladas. Mas foi a guarda fiscal, vigilante, que me recebeu.

A uma sombra tutelar, pouco depois, num minuto de descanso, a Historia recente da Pátria avivou-se.

– Uma das incursoes monarquicas foi por aqui...
– Tentaram... Tentaram...
– Este Minho! Este Minho!...
– Tem uma costela talassa, tem...

Mas recusei-me a reintegrar, por simples razões partidárias, aquelas viris penedias no planisfério verdurengo de onde a própria natureza as libertara. Tranquei as portas da memória e, pela margem do rio, subi aos Carris. Uma multidão minava as fragas à procura de volfrâmio, por conta da guerra e de quem a fazia. Teixos e carvalhos centenários acompanharam-me quase todo o caminho. Só desistiram quando me aproximei do cume da montanha, onde a vida, já sem raizes, tenta levantar voo.

Agora, sim! Agora podia, em perfeita paz de espírito, estender a minha ternura lusíada por toda a portuguesa Galiza percorrida. Pano de fundo, o mar de terras baixas era apenas um cenário esfumado; à boca do palco reflectiam-se nas várias albufeiras do Cávado a redonda pureza da Cabreira e a beleza sem par do Gerês. E o espectador emotivo já não tinha necessidade de brigar com o cavador instintivo que havia também dentro de mim. Embora através da magia agreste dos relevos, talvez por contraste, impunha-se-me com outra significação a abundância dos canastros, o optimismo dos semeadores e a própria embriaguez que anestesiava cada acto, no fundo necessária à saúde dos corpos individuais e colectivos. Integrava o alegrete perpétuo no meu caleidoscópio telúrico. Bem vistas as coisas, se ele não existisse faria falta no arranjo final do ramalhete corográfico português.

Em acção de graças por esta conclusão pacificadora, rezei orações pagãs no Altar de Cabrões, antes de subir à Nevosa e aos Cornos da Fonte Fria a experimentar como se tremem maleitas em pleno Agosto.

Estava exausto, mas o corpo recusava-se a parar. Pitões acenava-me lá longe, de tectos colmados e de chancas ferradas. Não obstante pisar o mais belo pedaço de chão pátrio, queria repousar em terra real e consubstancialmente minha. Ansiava por estender os ossos nos tomentos de Barroso, onde, apesar de tudo, era mais seguro adormecer. Quem me garantia a mim que, mesmo alcandorado nos carrapitos doirados da Borrajeira, não voltaria a ter pela noite fora um pesadelo verde?"

Dois objectivos

Recentemente percorri dois dos locais que mais desejava conhecer no PNPG: A travessia Pitões-Portela e a cumeada da Encostado Sol. Em ambas as ocasiões foram dias de forte calor mas a beleza dos locais compensou. São zonas duras, de uma beleza muito longe das paisagens bucólicas como muitos imaginam o Gerês. A maioria das pessoas que visitam o Gerês conhece-o junto às estradas, não imagina como é longe delas. A serra é dura, despida, por vezes seca mas pura. Eu gosto de ambas. Gosto do fresco das matas e a autenticidade das fragas. Prefiro perder-me nas segundas mas sentiria a falta das primeiras.

A travessia é uma experiência dura e um bom exercício de orientação. Os antigos percursos estão esquecidos. A zona é uma sucessão de corgos e quase não há mariolas para nos orientar o caminho. Particamente não há vegetação alta. Alguns currais esquecidos onde pastam livremente grupos de garranos. A área do PNPG pertencente a Montalegre é também umas das zonas onde me sinto mais livre.

Subir à cumeada da Encosta do Sol não é fácil, mas a perspectiva sobre o vale do Homem compensa largamente o esforço. Conhecia diversos relatos. Finalmente cumpri também este objectivo.

O sinal negativo em ambas foi ter que descer o estradão de acesso aos Carris. Nada me é tão penoso como caminhar naquele leito de pedras roladas. Pior só a confusão estival nas lagoas da Portela do Homem.

Não percebo porque o PNPG que é tão restrivo com certas coisas permite esta situação. É verdade que não consigo imaginar uma razão para impedir que as pessoas se banhem nas lagoas. Recordo-me é de muitas que justificariam que um guarda do Parque impedisse o depositar de lixo junto ao caminho.


Sunday, August 12, 2007

Legado











O que eu espero , não vem.
Mas ficas tu, leitor, encarregado
De receber o sonho.
Abre-lhe os braços, como se chegase
O teu pai do Brasil,
A tua mãe, do céu,
O teu melhor amigo, da cadeia.
Abre-lhe os braços como se quisesses
Abraçar toda a luz que te rodeia.
Não perguntes por que tardou tanto
E não chegou a tempo de me ver
Uns têm a sina de sonhar a vida,
Outros a de a colher


Miguel Torga, Cântico do Homem

Wednesday, July 04, 2007

O Castelo de Bouro

Quem já fez o PR2 da CM de Terras de Bouro 'Trilho do Castelo' começa com alguma ilusão de encontrar na serra os vestígios do Castelo de Bouro. Eu, apesar de nunca os ter encontrado, fiquei convencido de ter estado no local. Sabendo de que se tratava de um "castelo roqueiro" abandonado desde o século XVI, atribuí aos meus poucos conhecimentos de arqueologia não conseguir confirmar a sua localização. Recentemente, numa publicação da CM de Terras de Bouro - "Memórias e Imagens de Terras de Bouro Antigo", de José Viriato Capela, li uma interessante descrição do castelo pelo abade de Chamoin de 1758 e percebi que poderia ter procurado no local errado. Ainda que apenas apoiado em fontes bibliográficas, estou convencido que o local indicado no mapa do trilho não corresponde à localização do Castelo. Numa próxima caminhada pela zona espero poder confirmar a minha suspeita.



Uma descrição do castelo de Luis Fontes (arqueólogo):

"Amplamente referenciado nas Inquirições de 1220 e de 1258, em relação ao qual praticamente todas as freguesias das cercanias tinham pesadas obrigações e encargos, o castelo de Bouro foi durante toda a Idade Média um ponto estratégico de defesa do acesso ao vale alto do rio Homem. Com a Portela da Amarela e a Portela do Homem, o castelo de Bouro constituia um triângulo de vigilância e defesa da importante via de comunicação de origem romana que penetrava no interior galego, a célebre "Jeira", a via XVIII do Itinerário de Antonino que se manteve em uso até bem entrada a Época Moderna. O castelo, uma construção elementar, aparentemente estruturada à base de madeira, que tinha que ser refeita praticamente todos os anos, foi erguido no topo do monte onde se aglomera um denso caos de blocos, a mais de 950 metros de altitude, numa implantação que, podendo considerar-se paisagisticamente espectacular, terá obedecido sobretudo a interesses geo-estratégicos. Daí se domina todo o curso do rio Homem, em particular o seu troço alto e a ligação natural ao vale do rio Cávado pelo talvegue Covide / Rio Caldo. A fortificação, de que apenas restam alguns panos muito derrubados da cerca que fechava os espaços entre os enormes blocos graníticos, deverá datar de finais do século XII e princípios do século XIII. Terá conhecido uma ocupação recorrente mas não permanente, servindo sobretudo em períodos de conflito. Pelas tipologia construtiva e de implantação fisiográfica, trata-se de um característico castelo dos primórdios da nacionalidade, igual a tantos outros que então se ergueram no Entre Douro-e-Minho no cume dos montes mais proeminentes. Com os desenvolvimentos modernos da arte da guerra, nomeadamente a difusão do uso da artilharia a partir do século XVI, o castelo de Bouro deixou de ter qualquer importância militar, devendo datar desse período o seu abandono. Do ponto de vista arqueológico o monumento está mal conservado."

Wednesday, June 27, 2007

Regresso à terra

Descansamos porque mudámos de actividade – respondeu-me um casal de galegos que encontrei perto Soajo na casa que estão a recuperar. Foram-me apresentados por um amigo comum no meio de uma caminhada de exploração na qual me servia de guia. Já não são jovens, mas permanecem joviais. Falaram com alegria e orgulho da horta biológica e da recuperação da casa. Começaram por acampar na zona e foram descobrindo aqueles montes. Fizeram amigos e começaram a procurar uma casa que pudessem recuperar. Não fiquei a conhecer muito sobre eles. Serão naturalmente pessoas com alguma capacidade económica e bom nível de vida, mas são também um exemplo daqueles que optaram por abrandar o ritmo para ganhar tempo. Procuraram no contacto com a terra a simplificação dos ritmos urbanos. Um regresso às raízes ancestrais de cavadores.

Mas você é só de quando em vez e por festa – responderam dois velhos pastores com quem um amigo meu se cruzou numa serra. Respondiam à sua afirmação de que também ele andava por aqueles montes e que os invejava. Como o casal sinto o chamamento do campo e a necessidade de fugir à Cidade, mas não sei se algum dia terei a coragem e condições de ir além da “festa”.

Thursday, May 24, 2007

A casa dos Prados da Messe


Nos Prados da Messe existem o resto de umas paredes que seriam as ruínas de uma cabana de caça que o Rei D. Carlos teria mandado construir. Foi assim que me explicaram pela primeira vez e nunca duvidei da Real origem da construção. Eram tantas as fontes que repetiam a mesma história que teria de estar correcta. Na verdade, recordando-me do Real porte do D. Carlos, e mesmo sabendo-o amante da caça, fiquei a admirar a capacidade física do D. Carlos. Ao ler o Serra do Gerez, Estudos - Aspecto - Paisagens, de Tude de Sousa , que no início do século XX foi regente florestal da Serra do Gerês, encontrei algumas razões para duvidar dessa explicação.

O Rei D. Carlos (1) nunca terá estado nos Prados da Messe e a casa será muito posterior à sua estada no Gerês. A estada da família Real no Gerês realizou-se “… nos dias 12, 13, 14 e 15 de Outubro de 1887, a família real portugueza, D. Luiz I, D. Maria Pia, D. Carlos e D. Amélia, subindo os três primeiros a Leonte, onde D. Luís e D. Carlos , com alguns dignatários de sua comitiva, tomaram parte em uma caçada aos corços, não indo mais longe em nenhum dia, nem se internando mais na serra, como o desejava o guia que havia sido escolhido para dirigir as caçadas e os monarchas, o P.e Sebastião Pires da Freitas, de Covide”.

Na mesma obra há também uma referência sobre a origem das ruínas:“… nos Prados da Messe, onde há uma pequena casa florestal construida no verão 1908,…”.Assim, contra a tradição, a casa terá sido construída depois do regicídio(2).

1) D. Carlos iniciou o seu reinado em 19 de Outubro de 1889 pelo que esteve no Gerês como príncipe herdeiro na companhia de seu pai D. Luiz I, com a idade de 24 anos.
(2) D. Carlos morreu em 1 de Fevereiro de 1908 na consequência de um atentado no Terreiro do Paço.

Barragem de Vilarinho da Furnas


Duas fotos da construção da Barragem de Vilarinho das Furnas (1968/1969), inaugurada 1972.


"Manuel Antunes, sociólogo e presidente da AFURNA, Associação dos Antigos Habitantes de Vilarinho da Furna, foi o último a sair da povoação. «Aproveitei as férias do Natal e vim para aqui. A minha tia estava a viver na aldeia e passámos a passagem de ano de 70 para 71. Éramos os únicos que estávamos na aldeia. No dia seguinte pegámos na trouxa às costas, as últimas coisas que ela tinha, e viemos». Nesse ano, em 1971, a aldeia já fica submersa, apesar da barragem ter sido somente inaugurada a 21 de Maio de 1972. Acabou Vilarinho da Furna.

João Barroso, técnico auxiliar do Museu Etnográfico de Vilarinho da Furna, lembra-se de ir «lá à Páscoa, às festas, íamos tomar banho à ponte, ao rio Homem». Lembra-se que tudo mudou quando apareceu o pessoal para trabalhar na barragem. «As pessoas do Campo (aldeia de São Martinho do Campo do Gerês) tinham todas rebanhos e venderam tudo com medo de que lhes roubassem as coisas. Em cada corte dos animais estava uma família a viver, quatro ou cinco indivíduos que vieram para aqui em condições sub-humanas».

Manuel Antunes recorda que quando era pequenino — nasceu em 1946 — já se falava «que vinha uma barragem. Com essa história, nós brincávamos no rio a fazer barragens, mal sabíamos que era uma barragem que ia destruir a aldeia».Nos anos 50 tudo começa a tomar forma. Estudavam-se os terrenos, faziam-se furos. A barragem estava aí. Começa a ser construída em 67. Fecha em 71. Morre Vilarinho da Furna." retirado de http://www.serra-do-geres.com/


barragem já concluída


BARRAGEM DE VILARINHO DAS FURNAS
UTILIZAÇÕES
- Energia / Derivação

LOCALIZAÇÃO
DADOS GERAIS
Distrito - BragaConcelho - Terras do BouroLocal - S. João do Campo

Bacia Hidrográfica - Cávado Linha de Água - Rio Homem
Promotor - CPPE, Cª. Portuguesa de Produção de Electricidade, SADono de Obra (RSB) - CPPE
Projectista - Hidro Eléctrica do Cávado

Construtor - MAGOPEPAno de Projecto - 1966
Ano de Conclusão - 1972
CARACTERÍSTICAS HIDROLÓGICAS
Área da Bacia Hidrográfica - 77 km2
CARACTERÍSTICAS DA ALBUFEIRA

Área inundada ao NPA - 3460 x 1000m2Capacidade total - 117690 x 1000m3
Capacidade útil - 116080 x 1000m3
Nível de pleno armazenamento (NPA) - 569,5 m
Nível de máxima cheia (NMC) - 570 m
CARACTERÍSTICAS DA BARRAGEM
Betão - ArcoAltura acima da fundação - 94 m
Altura acima da fundação - 94 m
Cota do coroamento - 570 m
Comprimento do coroamento - 385 m
Fundação - Granito
Volume de betão - 294 x 1000 m3
DESCARREGADOR DE CHEIAS
Localização - Margem direita
Tipo de controlo - Controlado
Tipo de descarregador - Afogado lateral em poço
Comportas - 2 comportas vagão
Caudal máximo descarregado - 280 m3/s
Dissipação de energia - Trampolim
DESCARGA DE FUNDO
Localização - Talvegue
Tipo - Através da barragem
Secção da conduta - D 2,60
Caudal máximo - 180 m3/s
Controlo a jusante - Sim
Dissipação de energia - Jacto oco
CENTRAL HIDROELÉCTRICA
Tipo de central - Céu aberto
Nº de grupos instalados - 2
Tipo de grupos - Francis
Potência total Instalada - 125 MW
Energia produzida em ano médio - 225 GWh

fontes: http://www.serra-do-geres.com/ e http://cnpgb.inag.pt/

Tuesday, May 22, 2007

Novamente Serra Amarela


Domingo voltei à Serra Amarela para registar a ligação de Brufe às Casarotas e explorar na totalidade o caminho de Vilarinho aos prados debaixo da Louriça. Deixámos o jipe do Tiago um pouco antes de Brufe e começamos a fazer parte do Trilho Casarotas marcado pela CM Terras de Bouro. A entrada está muito bem sinalizada e um pouco acima da estrada existe um pequeno fojo de paredes convergentes. Os muros devem ter sido reparados recentemente mas as marcas do tempo são muito claras. Aos muros laterais e ao poço falta a dimensão que já devem ter tido. Na carta antiga a esta zona está designada por Colmeias do Pito e existem vestígios de várias silhas de ursos que protegeriam as colmeias.

O trilho segue em direcção a Brufe por uma portela até um pequeno planalto onde nos desviámos em direcção a Mata Porcos. Bem perto de nós andava o rebanho cabras de Cortinhas, um dos lugares de Brufe. Na última vez que passei por lá um dos habitantes disse-me que agora eram apenas 3 as pessoas que tinham animais. Este rebanho possui o certificado de agricultura biológica e é dele que saem os cabritos para o “Abocanhado”, o conhecido restaurante de Brufe.

O trilho marcado pela CM Terras de Bouro não visita as Casarotas, mas percebi que há nele uma espécie de convite para que os caminheiros mais aventureiros o façam. O convite de que falo é um pequeno desvio logo interrompido, mas que um pouco à frente segue com umas antigas marcações de um GR até às Casarotas. Com estas marcas e as mariolas é quase impossível não chegar ao local, marcado nas cartas modernas como Chã do Salgueiral. Sobre as Casarotas já escrevi na primeira vez que as visitei.

Acima dos 1100 metros a serra estava coberta por um manto nevoeiro pelo que continuámos o nosso caminho sem grandes paragens. Num ritmo não muito elevado seguimos até à Louriça onde almoçámos mais abrigados. Na descida para Vilarinho, no Sonhe, enquanto procurávamos a entrada para o “estradão”, encontrámos um pessoa que nos abordou com – “vocês vão-se perder”. De facto o nevoeiro estava cada vez mais cerrado e aconselhava muitos cuidados. Não fosse conhecermos o caminho, e termos o trilho registado no GPS, o melhor seria voltar para Brufe. Contou-nos algumas histórias de pessoas que se tinham perdido para nos aconselhar a não nos metermos ao monte, mas ficou mais sossegado quando lhe esclarecemos que já conhecíamos o caminho e tinhamos cartas, bússola e GPS. Pouco depois verificámos bem a dificuldade de orientação no meio do nevoeiro. Sem referências, apenas o GPS nos recolocava no percurso.

Descemos até Vilarinho sempre pelo antigo caminho e de facto na parte final a vegetação não ajuda. Bem no final encontrámos 3 estudantes checos em Erasmo na Universidade de Lisboa. Estavam também um pouco perdidos e ajudamo-nos mutuamente a sair do labirinto que a vegetação criou. No final tivemos uma boleia que nos deixou no local de partida e evitámos caminhar por estrada.

Tuesday, May 15, 2007

Espanha aqui tão perto

Participei recentemente num congresso em Espanha que me deu a oportunidade de constatar, mais uma vez, as diferenças e semelhanças entre os nossos dois povos. E aqui fico com um problema porque continuo a olhar Espanha como um todo. Só que Espanha por vezes insiste em mostrar-se por partes. Nas conversas informais ficava por vezes surpreendido com a natureza de algumas questões. Há no debate político e social em Espanha coisas que só dificilmente compreendo. O facto de ser de um país com uma identidade nacional com séculos de história dificulta-me o entendimento da questão basca, catalã ou galega. E já nem falo do terrorismo, mas sim dos pequenos episódios que estes nacionalismos despertam. Ver as grandes questões reduzidas aos pequenos nadas que afectam o nosso quotidiano, é ver as grandes questões reduzidas a pormenores burlescos.

É talvez aí que nos sentimos um pouco melhor porque no resto saímos sempre a perder. Sem querer ferir o orgulho pátrio, Espanha ganha-nos aos pontos em quase tudo. É um país mais moderno, menos preso aos formalismos e muito mais prático. Há um exemplo que pela sua actualidade merece ser citado. No último concurso de acesso ao ensino superior a maioria das universidades tinha já os cursos segundo Bolonha e até ao final deverão estar a totalidade nos novos currículos. Portugal é até apontado como um bom exemplo pela Comunidade Europeia. Espanha só em 2010 pretende passar para os novos currículos. Sem pressas, está a fazer uma revisão tranquila. Como "depressa e bem, há poucos quem" não é complicado imaginar quem fará melhor esta passagem. Portugal condicionou os currículos aos novos normativos sem discutir suficientemente as vantagens e inconvenientes das diversas opções. Simplesmente cortou e colou para a nova bitola. A Espanha, ao contrário, sem pressas, prepara e discute esta oportunidade. Se Portugal é o "bom aluno" da Declaração de Bolonha, é a Espanha que aprende com ela. É a diferença paroquial de ser o primeiro em oposição à opção de estar entre os melhores. A mim não me importa que Portugal seja pequeno, só me importa que seja pequenino.