Cutelo de Pias - Serra do Gerês
Uma publicação recente do Rui Barbosa no blogue Carris relativamente ao topónimo Matança na Serra do Gerês republicou uma passagem de um manuscrito de 1744, do Padre Diogo Martins Pereira, que se encontra numa biblioteca particular de uma casa da aldeia de Pincães, na freguesia de Cabril – Montalegre.
A explicação do topónimo parece-me algo fantasiosa e já a tinha tratado aqui em 2012 para a contrapor com uma outra explicação em considero mais credível encontrada nas Memórias Paroquiais.
No entanto a publicação do Rui Barbosa fez-me refletir sobre a explicação do topónimo Gerês que o Padre Diogo Martins Pereira relacionada com o episódio em causa.
«...E seria na ocasião que o príncipe Dom Pelágio, se viu favor vindo do Céu nas Covas de Oviedo, quando as setas que contra ele aos seus atiravam os mouros, as mesmas que atiraram e se feriam e matavam e aos muito mouros que ali escapavam se viriam com esta serra em paradeiro fazendo nela redutos e cateteres no áspero da mesma serra, donde os cristãos os expulsaram e fizeram retroceder até Matança, onde lhe deram batalha, e que por isso lhe deram o nome de Matança pelos muitos que ali mataram, donde não puderam entrar nesta freguesia, a qual tinham extremado ódio, sendo esse ódio comum contra toda a cristandade que vivia nas Espanhas, venha a ser especial contra os povos que viviam nesta freguesia tão extensa, e lhe fazia tanto dano como se viu nesta batalha da Matança e dizem que juraram os mouros vencer ou morrer como morreram os mais deles, e também dizem que deste solene juramento que fizeram no Gerês, tomara a serra este nome de Gerês, e então se não deve escrever Gerês, mas sim Jurês.»
Uma explicação do topónimo Gerês que tenho muita dificuldade em aceitar por a considerar igualmente fantasiosa.
Recordei-me então do que tinha lido no Ciberdúvidas da Língua Portuguesa aquando de uma polémica sobre o topónimo Geira que segundo José Pedro Machado (Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, 2003) terá origem no latim Caesaria:
«Do lat. Caesaria, -area, "imperial", "de César". O nome-título figura, como de costume, nos marcos miliários, o que levaria a popularizar a designação. Cf. top. esp. Jerez Caesaris, genitivo de Caesar. O top. port. Gerês terá a mesma origem. O s.f. port. jeira, tal como o cast. jera, deve-se ao lat. diaria [...].»
Existindo no entanto outra proposta de Amílcar Guerra ("Algumas questões de toponímia pré-romana do Ocidente peninsular"
«relaciona Geira e Gerês com as formas pré-romanas atestadas na epigrafia latina Ocaera e Ocaerensis, respetivamente (o resultado medieval da segunda forma aparece atestado como «alpes Ugeres» ou «Ogeres»). É, pois, possível que Geira [e Gerês] tenha origem numa língua indígena pré-romana.»
Sendo que Jorge de Alarcão em “Notas de arqueologia, epigrafia e toponímia – VI” considera que «a leitura Ocaere não só é segura, como explica os nomes da serra do Gerês e da estrada da Geira.»
Assim, parece óbvio que a explicação do Padre Diogo Martins Pereira não seria mais do uma fantasia. Eventualmente iniciada com o objetivo de estabelecer uma ligação legitimadora do povoamento da serra do Gerês com Pelágio e a Batalha de Covadonga.
Aceitando as explicações científicas, o topónimo Gerês terá origem no vocábulo latino «caesaria», na explicação etimológico, ou em «Ocaere» de uma língua indígena pré-romana, na explicação dos arqueólogos. Explicações que certamente serão muito menos atrativas de contar junto ao crepitar de uma lareira.
Em tempo:
Sobre o topónimo Gerês/Xurés já descobri mais informação, mas vou precisar de tempo para a tratar a toda a informação recolhida. Em futuras entradas darei notícia dessas informações.
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Sobre o topónimo Gerês/Xurés já descobri mais informação, mas vou precisar de tempo para a tratar a toda a informação recolhida. Em futuras entradas darei notícia dessas informações.
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