É preciso enterrar el-rei Sebastião
é preciso dizer a toda a gente
que o Desejado já não pode vir.
É preciso quebrar na ideia e na canção
a guitarra fantástica e doente
que alguém trouxe de Alcácer Quibir.
Eu digo que está morto.
Deixai em paz el-rei Sedastião
deixai-o no desastre e na loucura.
Sem precisarmos de sair do porto
temos aqui a mão
a terra da aventura.
Vós que trazeis por dentro
de cada gesto
uma cansada humilhação
deixai falar na vossa voz a voz do vento
cantai em tom de grito e de protesto
matai dentro de vós el-rei Sebastião.
Quem vai tocar a rebate
os sinos de Portugal?
Poeta: é tempo de um punhal
por dentro da canção.
Que é preciso bater em quem nos bate
é preciso enterrar el-rei Sebastião.
Manuel Alegre - Abaixo el-rei Sebastião
O político não ouviu o poeta. Renunciou a matar el-rei Sebastião num discurso com “um punhal por dentro”. Enunciou para concluir o contrário mas ninguém esperava outra coisa. Só poucos ainda acreditam em sibilinas mensagens no discurso.
Confesso que até tenho alguma simpatia pelo Manuel Alegre. É um político cheio de contradições, mas não é insosso. É real. Ou melhor, é republicano.
Só que ontem fez o meu país mais pequenino porque como ele mesmo escreveu: “um país tem o tamanho dos seus homens e o meu país tem o teu tamanho e nada mais.”
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