Ontem caminhei cerca de 22 km nas Terras do Barroso, percorridos em trilhos antigos que uniam as aldeias antes do alcatrão ter rasgado vias mais recentes. Seis horas a caminhar entre aldeias em pré-abandono como demonstram os edifícios escolares com os invariáveis sinais de inactividade. Seis horas a percorrer ritmos muito diferentes dos citadinos.
Percebi nas pessoas com quem cruzamos uma satisfação por ver “gente de fora” nos seus montes, mas também uma incompreensão pelo “ócio”, natural em quem não tem descansos semanais nas suas rotinas agrícolas.
No final do caminho um senhor com uns 60 anos perguntou-nos por onde tinhamos andado e se tinhamos gostado das paisagens. “Conheço isso tudo” - e acrescentou coisas que sabe só eles conhecerem marcando a diferença. Perguntou também de onde eramos, “Conheço” - e listou as cidades que conhecia. “A primeira vez que saí foi para fazer a tropa no Algarve. Se me tivessem colocado em Chaves tinha fugido, assim tive 6 meses sem vir a casa. Só quando me mudaram (de quartel) pude vir de licença.” Riu-se quando lhe perguntamos quanto tempo demorava a vir do Algarve - “Dois dias e a maior licença que tinha eram dois dias”.
Talvez não saiba, mas aquele senhor orgulhoso dos seus montes e caminhos fechou o dia com uma lição sobre o país que somos. Um país pequeno que se perdeu no mundo com sonhos de impérios esquecendo-se de se cuidar. Uma história que talvez justifique o país que agora se dilui.
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