O país está incrédulo. Para os não iniciados nesta magia negra em que aos poucos a justiça se está a transformar, é difícil assistir a mais este episódio da novela Fátima Felgueiras e continuar a acreditar nos tribunais.
Será que aquela senhora que com tiques de Evita se assumiu como candidata a um município português não é a mesma que fugiu para o Brasil? Não é a mesma que fazia conferências de imprensa do Rio de Janeiro, com o bronzeado das praias de Copacabana, dizendo-se vítima de um sistema que a avisou a tempo de evitar a prisão? Não é mesma em nome da qual se espancou dirigentes partidários? Não é a mesma sobre a qual recaem graves acusações?
Felgueiras não fica muito longe de Fonte Arcada, onde terá começado a Revolta da Maria da Fonte. E talvez Fátima Felgueiras sonhe poder reeditar esse levantamento popular. E não está muito enganada na génese da revolta. A "Maria da Fonte", apesar de cantada por uma certa esquerda, foi um revolta ultraconservadora despoletada contra a retirada dos mortos das igrejas, foi essencialmente a revolta de um país paroquial contra a modernidade. Foi uma revolta contra as reformas.
Se podemos reclamar do sistema de justiça que permite este espectáculo triste. Se podemos reclamar de um sistema político que permite que estas candidaturas. Devemos reclamar do país que somos, do país que elege estes "caudilhos".
O país que ontem recusou entender uma medida de higiene pública, é o mesmo que hoje continua a desconfiar do estado. É o mesmo país que continua a entender as fugas aos impostos. É o mesmo país que aplaude o infractor porque é o mais "esperto", e penaliza o cumpridor responsável.
É porque ainda há em nós um pouco da "Maria da Fonte" que existem Fátimas Felgueiras. É complicado respeitar um Estado que não se dá ao respeito. Desejo é que, desta vez, saibamos ver quem é "falso à nação".
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