Monday, November 15, 2010

Notas sobre o Urso

Silha - Trilho Silha dos Ursos (PNPG)

“Neste sitio (…) estão algũas Alverices redondas, feytas de muyto boa pedra, e bem ajeitada, e passão de ter vinte palmos de alto; principião em bayxo em circuito pequeno, e acabão em mayor âmbito, e assim estão as sua paredes muyto empenadas para fora, sem por ellas poder sobir cousda algũa, ainda que as pedras não estiverão tão ajustadas, como estão. Estas Alverices fizerão os antigos para guardar as suas colmeas, pois erão único abrigo que tinhão para escaparem à fereza dos ussos que erão tantos naquele tempo que sobião as paredes e, entretanto dentro pegavão nos cortiços das abelhas e os levavão a donde havia agoa, e tirando os tampos dos cortiços, metião-nos na agoa, e afogadas as abelhas, e comião livremente o mel.”

“A este feroz e porfiado animal fazião render os caçadores pondo em o tronco de hũa arvore hũm pouco de mel com um masso, e hum certo engenho, que quando hia a comer do mel davalhe na cabeça, e elle tanto mais porfiava de gostar, athe que o masso o fazia render, e ficava de vencido. Hoje se não acha no Geres tal casta de animal por causa dos grandes fogos que sempre continuamente os lavradores andão lançando nos montes, e o ultimo que se matou, conforme referem os velhos da terra, foy pouco mais ou menos no anno de 1650, na Quelha da Ursa, que fica para a Chã da Fonte, junto à Casa da Neve”.

[Padre José de Matos FERREIRA, Thesouro de Braga descuberto no Campo do Gerez, Braga, 1728] Edição fac-similada da Câmara Municipal de Terras de Bouro, 1994.

O ano 1650 é normalmente referido como o da extinção do urso no Gerês ainda que alguns ambientalistas deêm hoje como certo que ele terá continuado a existir durante mais anos. Até porque há fontes espanholas que dão conta sua da existência no loutro lado da fronteira. As "alverices" referidas por José de Matos Ferreira são as estruturas que hoje são vulgarmente denominadas de silhas, mas que também podem ser designadas por colmeais, muros ou alvarizes. Curiosamente em Espanha são conhecidas por colmenales, alvarices ou cortinos. A técnica de caça descrita é conhecida nas Asturias por pezugo.

Nas Memórias Paroquiais de 1758 (freguesia de Outeiro) pode ainda ser encontrada uma outra referência ao urso na região do PNPG:

(...) Há quem se lembre de hum homem da freguesia de Cabril que matou no ditto Gerês um urso. Certifica havê-los nesse tempo por se verem de presente sinaes de muros de colmeas sobre pedras altas para se livrarem delles”.

pezugo austuriano

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