Wednesday, November 24, 2010

Presença histórica do urso em Portugal 8

(publicação parcelar de artigo publicado no nº 3 da Revista AÇAFA)


PRESENÇA HISTÓRICA DO URSO EM PORTUGAL E TESTEMUNHOS DA SUA RELAÇÃO COM AS COMUNIDADES RURAIS
Francisco Álvares e José Domingues

Anexo I. Registos documentais posteriores ao séc. XVII, apresentados por ordem cronológica
 
Doc. 1

1728 – [Padre José de Matos FERREIRA, Thesouro de Braga descuberto no Campo do Gerez, Braga, 1728] Edição fac-similada da Câmara Municipal de Terras de Bouro, 1994.

“Neste sitio (…) estão algũas Alverices redondas, feytas de muyto boa pedra, e bem ajeitada, e passão de ter vinte palmos de alto; principião em bayxo em circuito pequeno, e acabão em mayor âmbito, e assim estão as sua paredes muyto empenadas para fora, sem por ellas poder sobir cousda algũa, ainda que as pedras não estiverão tão ajustadas, como estão. Estas Alverices fizerão os antigos para guardar as suas colmeas, pois erão único abrigo que tinhão para escaparem à fereza dos ussos que erão tantos naquele tempo que sobião as paredes e, entretanto dentro pegavão nos cortiços das abelhas e os levavão a donde havia agoa, e tirando os tampos dos cortiços, metião-nos na agoa, e afogadas as abelhas, e comião livremente o mel.”

“A este feroz e porfiado animal fazião render os caçadores pondo em o tronco de hũa arvore hũm pouco de mel com um masso, e hum certo engenho, que quando hia a comer do mel davalhe na cabeça, e elle tanto mais porfiava de gostar, athe que o masso o fazia render, e ficava de vencido. Hoje se não acha no Geres tal casta de animal por causa dos grandes fogos que sempre continuamente os lavradores andão lançando nos montes, e o ultimo que se matou, conforme referem os velhos da terra, foy pouco mais ou menos no anno de 1650, na Quelha da Ursa, que fica para a Chã da Fonte, junto à Casa da Neve”.

Doc. 2

1736, Junho, 09 – [António AFONSO – “Notícia da freguesia de S. João do Campo que mandou o Dr. Vigário-Geral aos 9 de Junho de 1736”, Cadernos de Cultura 4, Terras de Bouro, Território Museu da Montanha, Câmara Municipal de Terras de Bouro, 2001, p. 20]

“A demais caça são águias reays, javalizes, lobos, cabras bravas que parecem veados, corças, lobos cervais. Ursos já hoje não apparecem por cauza dos fogos que cada passo se lança nos montes”

Doc. 3

1744 – Códice dos Casais de Pincães. P.e Diogo Martins Pereira [transcrição de cópia de 1813, por António Martinho BAPTISTA]

“FAFIÃO – “Entendendose hir a extinguindose [os lobos cervais] como se extinguirão os ursos pelo cui[da]do que os moradores tem de os preceguir, e caçar andando de dia e de noute athé os matar, ou fazer fugir p[ar]a os montes da Irmida e Villar da Veiga, donde também os perseguem com notável cuidado (…)” [fl. 13]

Doc. 4

1758 – Na memória paroquial da freguesia de Outeiro. [Rogério BORRALHEIRO, Montalegre Memórias e História, Montalegre, 2005]

(...) Há quem se lembre de hum homem da freguesia de Cabril que matou no ditto Gerês um urso. Certifica havê-los nesse tempo por se verem de presente sinaes de muros de colmeas sobre pedras altas para se livrarem delles”.

Doc. 5

Séc. XVIII - [Padre João BARROSO PEREIRA, pároco de Seara, Antigas Histórias de Salto, século XVIII] Versão dactilografada de data e autor desconhecido.

“É muito abundante de caça: perdizes, coelhos, martuxos, fuinhas, aves bastantes, muitos lobos, raposas, porcos bravos, corças, veados, ursos e tantos outros que amolestam os lavradores para os defenderem das vastas colheitas”

“(…) grande quantidade de ursos, que destruíam as colmeias e para sua defeza faziam muros fechados.”

Doc. 6

1835 – [Jornal manuscrito bragançano de 2 de Março de 1835] Pesquisa de João Manuel Neto Jacob publicada na Revista “Brigantia” e na Revista “Montesinho”.

“Os off.es do Regim.to de Inf.ª N. 9 nomearão huma comissão p.a que esta empregue todo o desvelo a apprezentar na 1.ª occazião de paceio Militar os meios q. julgar mais eficases p.ª huma caçada de Urços, q. tencionão fazer neste dia; paresce q. a Comição p.ª satisfazer aos seus Collegas tem reunido a si hum Militar Cidadão interessado neste género de caçadas, esperámos do zello do S.r Baroso (?) de Toenique (?), Presidente desta comissão q não desprese as ideias emitidas pelo Sr. Pote (?) a Comição reunindo asi este Cidadão nós lhe afiançámos o bom rezultado da caçáda.”

Doc. 7

1893 – [Gabriel PEREIRA, Estudos Eborenses – As caçadas, 2ª Parte, Évora 1893]

“Pouco vulgar, julgo, em lugares praticáveis, porque nos ermos montanhosos do norte do país o urso viveu até aos tempos modernos. Em Inverneiras de muitas neves há 50 anos, mais ou menos, ainda os pequenos ursos das Astúrias chegavam às montanhas do Minho e Trás-os-Montes”.

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