Monday, September 18, 2006

O Minho e outras histórias



Este fim-de-semana reencontrei-me com amigos numa descida de rafting no do Rio Minho. Ainda que tenha uma auréola radical esta descida é essencialmente um momento de lazer. Foi a terceira vez que desci, ainda que desta vez num percurso ligeiramente diferente dos anteriores devido ao baixo caudal do rio. Por uma estranha coincidência fiz sempre a descida com o mesmo monitor. Um antigo marinheiro brincalhão e muito sabedor nos relacionamentos. No meu raft desceram 3 participantes que não conhecia mas antes de entrarmos na água já funcionávamos como equipa.

Na descida, entre dois rápidos, aproveitava para nos dar informações sobre o Rio Minho. É impressionante verificar como o homem interagiu com a natureza durante séculos mantendo os ecossistemas em equilíbrio. As margens do Rio Minho são testemunhas privilegiadas dessa relação. Perde-se a conta às pesqueiras existentes nas suas margens para a pesca da lampreia, sável e salmão. Não sei quantas delas são ainda usadas mas aprendi que essas construções são prédios rústicos, com donos conhecidos que delas pagam taxas e outros impostos. Eu que sempre julguei serem património colectivo.

O dia tinha começado com chuvas fortes mas quando o sol abriu transformou-se numa manhã magnífica. Só que na margem espanhola as águas dessa chuva testemunhavam o drama dos incêndios de Verão. Com elas arrastavam para o rio cinzas que sujavam a margem direita e, por incrível que pareça, conseguimos, num momento, sentir o cheiro a queimado. Já terá sido pior disse-nos o monitor, mas confesso que foi uma surpresa ter ali mais um testemunho dos incêndios florestais.

O momento mais radical da descida foi um salto para a água de uma altura de 7 a 8 metros. Mais uma vez não resisti ao desafio inicial. Lá em cima, depois de olhar o abismo, hesitei. Só que depois de subir ao penedo não havia outro remédio que não fosse precipitar-me para o Minho. Um segundo de angústia, um outro de inconsciência, seguido pela percepção de, já no ar, alguém gritar - Agora fecha. E eu acho que fechei os braços. Apenas um pouco antes das águas me receberem e de o colete me ter devolvido à superfície. Este salto é bem maior, e mais assustador, que o do percurso a montante. Sou Minhoto, e o salto é mais que um salto para um rio, é um salto para o Minho. É também esse lado simbólico que me faz aceitar sempre o desafio e vencer o medo.

O dia foi também pretexto para recordar velhas histórias. Pequenas patifarias inocentes que correram bem. É engraçado o monte de recordações que acumulámos e como nos admirámos quando contámos os anos que já se passaram. A propósito dos ritmos do tempo um dos meus amigos disse-me algo espantoso – Nada nos esclarece melhor da passagem do tempo como assistir ao primeiro ano de um filho. O ritmo das mudanças é tão grande que nos chama atenção para as nossas e da nossa errada percepção que estamos na mesma. Posted by Picasa

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