Tuesday, February 26, 2008

Finalmente o Castelo de Bouro

acesso ao castelo perfeitamente delimitado pela queimada

vestígios de fundação ?

pedras soltas, vestígios de muro?

No último Domingo penso ter finalmente encontrado alguns vestígios do Castelo de Bouro. Já não tinha dúvidas sobre a sua localização, como já tinha escrito num outro post. Faltava-me era encontrar as evidências no local. Claro que nas minhas certezas há um certo grau de fé. Não sou arqueólogo e na minha convicção de as ter encontrado há muita vontade de acreditar.

Aos meus companheiros de caminhada, desconfiados das explicações sobre o castelo, recordei ter estado sentado naquelas fragas a roer uma maçã com as mesmas dúvidas. Não é fácil situar ali um castelo. E foram essas dúvidas que mais tarde me fizeram situar o castelo no Piorneiro, convencido que o Castro e Castelo seriam a mesma coisa. A imagem que temos de um castelo não se adequa ao local. Primeiro temos que desconstruir essa imagem e depois imaginar o castelo roqueiro que teria existido ali.

Mas quais foram as evidências que encontrei? As fundações do que me parece ser um pequeno muro, ou de uma construção, e umas pedras soltas (restos de um pequeno muro?). Como posso afirmar que são vestígios do castelo? Não posso, mas posso e quero acreditar. Sei no entanto que foram encontrados no local vestígios suficientes para localizar ali o castelo, confirmando as fontes bibliográficas. Procurei também uns entalhes na rocha que me disseram existir, mas não os encontrei. Em Aboim da Nobrega é muito mais fácil situar o castelo. Lá as fundações são perfeitamente visíveis nos entalhes na rocha. É uma pena que o local não tenha qualquer informação. Como a maioria das pessoas que fazem o trilho nunca conseguem identificar o local, acabam com uma sensação que perderam alguma coisa. Seria um bom complemento para mais bonito PR marcado pela CM Terras de Bouro.

Propositadamente deixei o castro do Piorneiro para futuras explorações. Quero lá ir com mais calma. Tenho do local maiores evidências. Nomeadamente a gravura e descrição existente nas Memórias Paroquiais de 1758. Tenho na ideia repetir a exploração que o abade José Coelho da Silva descreve em 1758, embora não me apeteça carregar com a escada manual pela qual "se pode e com muito trabalho subir". Quero pelo menos identificar a "Lage Pinta do Castro".

Alguns extratos do que li sobre o Castelo:

"Tem esta serra muintos penedos e grandes o quoal chamam o Castello e assim se chama a dita serra e no dito penhasco no cimo delle faz um caminho à via aprazivel das partes penedos altos quazi semelhante a outro penhasco que chamam do Castro do lemites da freguezia de Santiago de Chamoim e só difere em nam ter tantos penedos e também nam ter cobertura por cima. Em hum e outro se acham muitos tejolos artificialmente feitos por naçoens barbaras antiguamente e duros como pedras."

«Memórias Paraquiais de 1758 - Covide» in Memórias e Imagens de Terras de Bouro Antigo Edição CM Terras de , 2001



"Basta a análise das freguesias de Covide e da Cravalheira para logo concluir que o Castelo deveria situar-se próximo das duas povoações desses nomes. Mas, entre ambas, de qual estaria êle mais perto? Nenhuma dúvida temos que de Covide, e pelos seguintes motivos:
1º É na acta de Covide que se faz referência ao serviço de vela, por parte de determinadas famílias da freguesia.

2º É, também, junto a Covide, que passa a Estrada da Geira, correndo em estreita cumeada entre profundos vales de freita, a leste e da Carvalheira, a oeste.

3º E, por último, é ainda cerca de Covide que o terreno, subindo rapidamente para o cabeço do Piorneiro (cota 992), oferece em seus esporões avançados o melhor sítio para defesa da Estrada da Geira (...).

Costa Veiga - «O Julgado de Bouro, a Fronteira da Portela do Homem e o Castelo de Bouro em documentos mediavais» in Terras de Bouro. O Homem e a Serra, Câmara Municipal de Terras deBouro, nº2, 1992

Thursday, February 07, 2008

O circo e as dúvidas

foto tirada nas Minas dos Carris com o Pico da Nevosa ao fundo

Esta semana todos os que gostam da montanha foram surpreendidos com a notícia dos 3 montanheiros perdidos na Serra do Gerês. Os jornais, as tv´s e os outros órgãos de comunicação de divulgação nacional deram a esta notícia um largo destaque. Destaque que possivelmente ultrapassou em muito o interesse local da notícia. Portugal é assim, o cheiro a drama dá às mais simples coisas uma notoriedade descabida. E o pior é que esta atenção não resulta em maior qualidade da informação, apenas amplia ao absurdo as poucas informações iniciais. É o circo mediático. O pior espectáculo do mundo.

Desde a primeira hora que fiquei com sérias dúvidas sobre o que ouvia. As referências geográficas não faziam qualquer sentido. Percebi nas informações cruzadas qual a actividade que o grupo estaria a fazer, mas apenas porque sei quais os percursos normalmente realizados na zona. Nada nas primeiras notícias permitia tirar essa conclusão. Só quando a rede informal começou a funcionar a qualidade da minha informação melhorou. Começaram-me foi a surgir outras dúvidas.

Não quero abordar se os 3 montanheiros tinham experiência, ainda que saiba que os 3 são experientes e com formação em montanha. Tão pouco me interessa a questão se poderiam estar ali, pois estas questões, ainda que pertinentes, induzem ruído sobre aquilo que ninguém do circo percebeu ou questionou.

A questão é que os 3 montanheiros informaram às 16h00 a sua localização em coordenadas GPS, o que os geo-referenciava com um pequeno erro. Na montanha os 3 até poderiam não conseguir localizar as coordenadas numa carta ou mapa, mas a equipa de resgate desde essa hora teria uma localização muito aproximada do grupo (Pico da Nevosa 1500 metros). E se alguma dúvida existisse os 3 estiveram sempre contactáveis por telemóvel. Tanto que pelos vistos um jornalista conseguiu ligar com o grupo perto das 23h00. Ou seja, a equipa de resgate sempre soube que o grupo estaria a menos de uma hora das minas dos Carris (1450 metros). Local servido por um estradão de apenas 9 kms até à estrada Gerês-Portela do Homem. Logo seria sempre o melhor local para centrar o socorro. A razão porque optaram por centrar o socorro nas Lagoas do Marinho (1150 metros), a umas 3 horas do local é demasiado estranha. Até porque até ao local teriam que subir os 350 metros de diferença de cota por terrenos certamente alagados. A verdade é que no Gerês conhecendo-se a localização desde as 16h00 de um grupo, por muito mau que esteja o tempo, não se compreende a razão de os obrigar a uma pernoita naquelas condições. E muito menos se percebe as razões de terem mobilizado um helicóptero, um meio caro e completamente inadequado para o as condições meteorológicas.

Tenho para mim que o que este caso evidenciou foi uma total impreparação para estes socorros. Coisa que não estranha, porque na emergência tudo deve estar planeado e testado em simulacros. Desconheço se o PNPG possui planos de emergência e teria gostado que algum jornalista se questionasse sobre isso. Propositadamente não faço aqui qualquer interpretação dos factos. Prefiro registar a(s) dúvida(s). Mas a rede informal continua a funcionar e a permitir-me tirar conclusões.

Interessante foi também ler alguns comentários às notícias electrónicas. O Portugal sentado reagiu com um furor despropositado. Exigia-se facturas, punições. Os 3 ao Pelourinho, já - pediam contra os jovens "imbecis" que se perderam. E claro que aqui o facto de um ser um "jovem" de 40 anos era irrelevante. É jovem porque faz coisas que o Portugal sentado não faz. O que diriam essas pessoas ao verem famílias inteiras a caminhar pelos Parques Naturais fora das nossas fronteiras? Como chamariam ao sexagenário que vi descer do Monte Perdido? Estrangeiros, coisas para estrangeiros - escreveria o Portugal sentado. Claro que quando quiser chamar uns turístas o Portugal à mesa do orçamento dirá que temos condições únicas para pedestrianismo. Um clima, umas paisagens magníficas - diz um Portugal que acha que isso são coisas paros outros - Uns malucos, doidos perigosos a quem não temos que pagar as asneiras.

Sobre este caso li as maiores "asneiras". Muitas delas ditas por responsáveis que deviam saber calar. Percebi, mais uma vez, na leitura cruzada das diferentes notícias a falta de rigor da informação publicada. Os jornalistas preferem citar-se uns aos outros a questionar os factos. Recordo uma expressão lida algures sobre a guerra: "na guerra a primeira vitima é sempre a verdade". Chego vezes demais à conclusão que nesta verdadeira guerra de audiências, tiragens e resultados financeiros, no campo da informação jaz uma vitima desconhecida. Aparentemente este foi mais um dos casos. Feliz ficou o Primeiro Ministro porque os telejornais mostraram os novos helicópteros. Podem ter chegado tarde para os incêndios, mas chegaram a tempo de se mostrarem num salvamento onde não faziam falta.


mapa com os pontos citados