Thursday, May 24, 2007

A casa dos Prados da Messe


Nos Prados da Messe existem o resto de umas paredes que seriam as ruínas de uma cabana de caça que o Rei D. Carlos teria mandado construir. Foi assim que me explicaram pela primeira vez e nunca duvidei da Real origem da construção. Eram tantas as fontes que repetiam a mesma história que teria de estar correcta. Na verdade, recordando-me do Real porte do D. Carlos, e mesmo sabendo-o amante da caça, fiquei a admirar a capacidade física do D. Carlos. Ao ler o Serra do Gerez, Estudos - Aspecto - Paisagens, de Tude de Sousa , que no início do século XX foi regente florestal da Serra do Gerês, encontrei algumas razões para duvidar dessa explicação.

O Rei D. Carlos (1) nunca terá estado nos Prados da Messe e a casa será muito posterior à sua estada no Gerês. A estada da família Real no Gerês realizou-se “… nos dias 12, 13, 14 e 15 de Outubro de 1887, a família real portugueza, D. Luiz I, D. Maria Pia, D. Carlos e D. Amélia, subindo os três primeiros a Leonte, onde D. Luís e D. Carlos , com alguns dignatários de sua comitiva, tomaram parte em uma caçada aos corços, não indo mais longe em nenhum dia, nem se internando mais na serra, como o desejava o guia que havia sido escolhido para dirigir as caçadas e os monarchas, o P.e Sebastião Pires da Freitas, de Covide”.

Na mesma obra há também uma referência sobre a origem das ruínas:“… nos Prados da Messe, onde há uma pequena casa florestal construida no verão 1908,…”.Assim, contra a tradição, a casa terá sido construída depois do regicídio(2).

1) D. Carlos iniciou o seu reinado em 19 de Outubro de 1889 pelo que esteve no Gerês como príncipe herdeiro na companhia de seu pai D. Luiz I, com a idade de 24 anos.
(2) D. Carlos morreu em 1 de Fevereiro de 1908 na consequência de um atentado no Terreiro do Paço.

Barragem de Vilarinho da Furnas


Duas fotos da construção da Barragem de Vilarinho das Furnas (1968/1969), inaugurada 1972.


"Manuel Antunes, sociólogo e presidente da AFURNA, Associação dos Antigos Habitantes de Vilarinho da Furna, foi o último a sair da povoação. «Aproveitei as férias do Natal e vim para aqui. A minha tia estava a viver na aldeia e passámos a passagem de ano de 70 para 71. Éramos os únicos que estávamos na aldeia. No dia seguinte pegámos na trouxa às costas, as últimas coisas que ela tinha, e viemos». Nesse ano, em 1971, a aldeia já fica submersa, apesar da barragem ter sido somente inaugurada a 21 de Maio de 1972. Acabou Vilarinho da Furna.

João Barroso, técnico auxiliar do Museu Etnográfico de Vilarinho da Furna, lembra-se de ir «lá à Páscoa, às festas, íamos tomar banho à ponte, ao rio Homem». Lembra-se que tudo mudou quando apareceu o pessoal para trabalhar na barragem. «As pessoas do Campo (aldeia de São Martinho do Campo do Gerês) tinham todas rebanhos e venderam tudo com medo de que lhes roubassem as coisas. Em cada corte dos animais estava uma família a viver, quatro ou cinco indivíduos que vieram para aqui em condições sub-humanas».

Manuel Antunes recorda que quando era pequenino — nasceu em 1946 — já se falava «que vinha uma barragem. Com essa história, nós brincávamos no rio a fazer barragens, mal sabíamos que era uma barragem que ia destruir a aldeia».Nos anos 50 tudo começa a tomar forma. Estudavam-se os terrenos, faziam-se furos. A barragem estava aí. Começa a ser construída em 67. Fecha em 71. Morre Vilarinho da Furna." retirado de http://www.serra-do-geres.com/


barragem já concluída


BARRAGEM DE VILARINHO DAS FURNAS
UTILIZAÇÕES
- Energia / Derivação

LOCALIZAÇÃO
DADOS GERAIS
Distrito - BragaConcelho - Terras do BouroLocal - S. João do Campo

Bacia Hidrográfica - Cávado Linha de Água - Rio Homem
Promotor - CPPE, Cª. Portuguesa de Produção de Electricidade, SADono de Obra (RSB) - CPPE
Projectista - Hidro Eléctrica do Cávado

Construtor - MAGOPEPAno de Projecto - 1966
Ano de Conclusão - 1972
CARACTERÍSTICAS HIDROLÓGICAS
Área da Bacia Hidrográfica - 77 km2
CARACTERÍSTICAS DA ALBUFEIRA

Área inundada ao NPA - 3460 x 1000m2Capacidade total - 117690 x 1000m3
Capacidade útil - 116080 x 1000m3
Nível de pleno armazenamento (NPA) - 569,5 m
Nível de máxima cheia (NMC) - 570 m
CARACTERÍSTICAS DA BARRAGEM
Betão - ArcoAltura acima da fundação - 94 m
Altura acima da fundação - 94 m
Cota do coroamento - 570 m
Comprimento do coroamento - 385 m
Fundação - Granito
Volume de betão - 294 x 1000 m3
DESCARREGADOR DE CHEIAS
Localização - Margem direita
Tipo de controlo - Controlado
Tipo de descarregador - Afogado lateral em poço
Comportas - 2 comportas vagão
Caudal máximo descarregado - 280 m3/s
Dissipação de energia - Trampolim
DESCARGA DE FUNDO
Localização - Talvegue
Tipo - Através da barragem
Secção da conduta - D 2,60
Caudal máximo - 180 m3/s
Controlo a jusante - Sim
Dissipação de energia - Jacto oco
CENTRAL HIDROELÉCTRICA
Tipo de central - Céu aberto
Nº de grupos instalados - 2
Tipo de grupos - Francis
Potência total Instalada - 125 MW
Energia produzida em ano médio - 225 GWh

fontes: http://www.serra-do-geres.com/ e http://cnpgb.inag.pt/

Tuesday, May 22, 2007

Novamente Serra Amarela


Domingo voltei à Serra Amarela para registar a ligação de Brufe às Casarotas e explorar na totalidade o caminho de Vilarinho aos prados debaixo da Louriça. Deixámos o jipe do Tiago um pouco antes de Brufe e começamos a fazer parte do Trilho Casarotas marcado pela CM Terras de Bouro. A entrada está muito bem sinalizada e um pouco acima da estrada existe um pequeno fojo de paredes convergentes. Os muros devem ter sido reparados recentemente mas as marcas do tempo são muito claras. Aos muros laterais e ao poço falta a dimensão que já devem ter tido. Na carta antiga a esta zona está designada por Colmeias do Pito e existem vestígios de várias silhas de ursos que protegeriam as colmeias.

O trilho segue em direcção a Brufe por uma portela até um pequeno planalto onde nos desviámos em direcção a Mata Porcos. Bem perto de nós andava o rebanho cabras de Cortinhas, um dos lugares de Brufe. Na última vez que passei por lá um dos habitantes disse-me que agora eram apenas 3 as pessoas que tinham animais. Este rebanho possui o certificado de agricultura biológica e é dele que saem os cabritos para o “Abocanhado”, o conhecido restaurante de Brufe.

O trilho marcado pela CM Terras de Bouro não visita as Casarotas, mas percebi que há nele uma espécie de convite para que os caminheiros mais aventureiros o façam. O convite de que falo é um pequeno desvio logo interrompido, mas que um pouco à frente segue com umas antigas marcações de um GR até às Casarotas. Com estas marcas e as mariolas é quase impossível não chegar ao local, marcado nas cartas modernas como Chã do Salgueiral. Sobre as Casarotas já escrevi na primeira vez que as visitei.

Acima dos 1100 metros a serra estava coberta por um manto nevoeiro pelo que continuámos o nosso caminho sem grandes paragens. Num ritmo não muito elevado seguimos até à Louriça onde almoçámos mais abrigados. Na descida para Vilarinho, no Sonhe, enquanto procurávamos a entrada para o “estradão”, encontrámos um pessoa que nos abordou com – “vocês vão-se perder”. De facto o nevoeiro estava cada vez mais cerrado e aconselhava muitos cuidados. Não fosse conhecermos o caminho, e termos o trilho registado no GPS, o melhor seria voltar para Brufe. Contou-nos algumas histórias de pessoas que se tinham perdido para nos aconselhar a não nos metermos ao monte, mas ficou mais sossegado quando lhe esclarecemos que já conhecíamos o caminho e tinhamos cartas, bússola e GPS. Pouco depois verificámos bem a dificuldade de orientação no meio do nevoeiro. Sem referências, apenas o GPS nos recolocava no percurso.

Descemos até Vilarinho sempre pelo antigo caminho e de facto na parte final a vegetação não ajuda. Bem no final encontrámos 3 estudantes checos em Erasmo na Universidade de Lisboa. Estavam também um pouco perdidos e ajudamo-nos mutuamente a sair do labirinto que a vegetação criou. No final tivemos uma boleia que nos deixou no local de partida e evitámos caminhar por estrada.

Tuesday, May 15, 2007

Espanha aqui tão perto

Participei recentemente num congresso em Espanha que me deu a oportunidade de constatar, mais uma vez, as diferenças e semelhanças entre os nossos dois povos. E aqui fico com um problema porque continuo a olhar Espanha como um todo. Só que Espanha por vezes insiste em mostrar-se por partes. Nas conversas informais ficava por vezes surpreendido com a natureza de algumas questões. Há no debate político e social em Espanha coisas que só dificilmente compreendo. O facto de ser de um país com uma identidade nacional com séculos de história dificulta-me o entendimento da questão basca, catalã ou galega. E já nem falo do terrorismo, mas sim dos pequenos episódios que estes nacionalismos despertam. Ver as grandes questões reduzidas aos pequenos nadas que afectam o nosso quotidiano, é ver as grandes questões reduzidas a pormenores burlescos.

É talvez aí que nos sentimos um pouco melhor porque no resto saímos sempre a perder. Sem querer ferir o orgulho pátrio, Espanha ganha-nos aos pontos em quase tudo. É um país mais moderno, menos preso aos formalismos e muito mais prático. Há um exemplo que pela sua actualidade merece ser citado. No último concurso de acesso ao ensino superior a maioria das universidades tinha já os cursos segundo Bolonha e até ao final deverão estar a totalidade nos novos currículos. Portugal é até apontado como um bom exemplo pela Comunidade Europeia. Espanha só em 2010 pretende passar para os novos currículos. Sem pressas, está a fazer uma revisão tranquila. Como "depressa e bem, há poucos quem" não é complicado imaginar quem fará melhor esta passagem. Portugal condicionou os currículos aos novos normativos sem discutir suficientemente as vantagens e inconvenientes das diversas opções. Simplesmente cortou e colou para a nova bitola. A Espanha, ao contrário, sem pressas, prepara e discute esta oportunidade. Se Portugal é o "bom aluno" da Declaração de Bolonha, é a Espanha que aprende com ela. É a diferença paroquial de ser o primeiro em oposição à opção de estar entre os melhores. A mim não me importa que Portugal seja pequeno, só me importa que seja pequenino.