Thursday, September 29, 2005

Delicioso

Há qualquer coisa na infância que não sabemos definir que a torna quase mágica. E não são apenas as recordações de tempos felizes, porque mesmo nas crianças com infâncias infelizes essa magia está lá.

Não sei o que seja, mas também não sobre isso que quero escrever. A pedido de uma das responsáveis visitei o blog Netescrita( http://www.netescrita.blogspot.com/ ). São pequenos textos de miúdos e menos míudos. Coisas simples de um projecto bonito em defesa da língua e da leitura. Encontrei lá esta pérola:

"Quando estou a ler uns livros parece que estou a comer chocolate ou a lamber um gelado.(Pedro, E.B. 1 da Sé, Braga)"

Não é mágico? Onde é que perdemos esta simplicidade de dizer coisas grandes?

São Rosas, Senhor. São Rosas!

São Rosa Senhor, São Rosas!

De acordo com a fé de cada um, estas palavras estarão ligadas a um milagre de uma rainha. E, aparentemente, as sondagens eleitorais são isso mesmo “de acordo com a fé de cada um”. Vem isto a propósito da publicação nos dois jornais da cidade, em dias seguidos, numa estratégia de antecipação ou resposta, de duas sondagens sobre as próximas eleições locais com resultados diametralmente opostos. Em que cada uma delas parece reflectir os posicionamentos editoriais desses jornais, ainda que num dos casos o posicionamento seja mais evidente.

Fico com mesma a sensação de desconforto, de desconfiança metódica e avisada, que tenho relativamente às avaliações que correspondem ao resultado esperado.

Só que as sondagens, sendo realizados com bases científicas, ainda que sujeitos a um erro conhecido, deveriam ser de confiança. A sua credibilidade deveria ser absoluta. Pois, como nos ensina a fábula do Pedro e o lobo, a perda de confiança pode ter graves consequências.

De quem é a culpa? Naturalmente que as empresas de sondagens serão as maiores culpadas. Particularmente daquelas que gostam de ter na cama a mulher e a amante. O rigor, a ética, devia impedir que empresas de sondagens fizessem também serviços sócio-políticos como posicionamento de imagem de partidos e líderes, perfil de eleitores, motivações, estudos sobre gestão autárquica ou mais grave publicidade partidária em vésperas de eleições, entre outras coisas.

Infelizmente isso nem sempre é verdade. Há quem reserve o rigor científico para as grandes sondagens, as que podem dar uma capa de respeitabilidade à empresa. No restante, aceitam-se encomendas de estudos à medida, naturalmente sustentados em informação correctamente coligida. Só como todos já aprendemos as respostas que obtemos dependem das perguntas que fazemos e onde as fazemos.

Depois temos ainda os critérios editoriais que aceitam estas estratégias e dão cobertura à sua divulgação.

Thursday, September 22, 2005

O juízo da juíza

Há acontecimentos que apenas parecem servir para nos provar que está tudo doido. O jornal "Público" descreve assim parte do episódio Fátima Felguiras:

"No requerimento, o advogado de Fátima Felgueiras pedia que fosse revogada a prisão preventiva, uma vez que não se verifica já o perigo de perturbação da investigação (está concluída), de continuação da prática dos crimes que lhe são imputados (não volta à câmara neste mandato), nem o perigo de fuga, uma vez que voluntariamente se apresentou à justiça para ser julgada. Esta tese foi contrariada pelo Ministério Público, entendendo que se mantém o perigo de fuga, que terá mesmo sido confirmado pelo comportamento da autarca, pelo que pedia a manutenção da prisão preventiva. Diferente, no entanto, foi a avaliação da juíza, que optou por libertar Fátima Felgueiras, impondo-lhe tão-somente a obrigatoriedade de não se ausentar do país, a par da reformulação do termo de identidade e residência."

Não há perigo de fuga? Para que serve a obrigatoriedade de não se ausentar do país de alguém que já fugiu antes? Quem tem medo do que esta senhora poderá contar? A juíza tem juízo?E quem julga o juízo da juíza.

Sra. Dona Fátima

O país está incrédulo. Para os não iniciados nesta magia negra em que aos poucos a justiça se está a transformar, é difícil assistir a mais este episódio da novela Fátima Felgueiras e continuar a acreditar nos tribunais.

Será que aquela senhora que com tiques de Evita se assumiu como candidata a um município português não é a mesma que fugiu para o Brasil? Não é a mesma que fazia conferências de imprensa do Rio de Janeiro, com o bronzeado das praias de Copacabana, dizendo-se vítima de um sistema que a avisou a tempo de evitar a prisão? Não é mesma em nome da qual se espancou dirigentes partidários? Não é a mesma sobre a qual recaem graves acusações?

Felgueiras não fica muito longe de Fonte Arcada, onde terá começado a Revolta da Maria da Fonte. E talvez Fátima Felgueiras sonhe poder reeditar esse levantamento popular. E não está muito enganada na génese da revolta. A "Maria da Fonte", apesar de cantada por uma certa esquerda, foi um revolta ultraconservadora despoletada contra a retirada dos mortos das igrejas, foi essencialmente a revolta de um país paroquial contra a modernidade. Foi uma revolta contra as reformas.

Se podemos reclamar do sistema de justiça que permite este espectáculo triste. Se podemos reclamar de um sistema político que permite que estas candidaturas. Devemos reclamar do país que somos, do país que elege estes "caudilhos".

O país que ontem recusou entender uma medida de higiene pública, é o mesmo que hoje continua a desconfiar do estado. É o mesmo país que continua a entender as fugas aos impostos. É o mesmo país que aplaude o infractor porque é o mais "esperto", e penaliza o cumpridor responsável.

É porque ainda há em nós um pouco da "Maria da Fonte" que existem Fátimas Felgueiras. É complicado respeitar um Estado que não se dá ao respeito. Desejo é que, desta vez, saibamos ver quem é "falso à nação".

Thursday, September 15, 2005

Glória

O dia já recompensou. Sinto-me um "defensor dos pobres e oprimidos". Há em mim algo do espírito da "Maria da Fonte", uma revolta contra a ordem e os seus símbolos.

Acabo de desalojar uma viatura da GNR-BT do meu lugar de estacionamento. Foi bonito, quase triunfal ver a aquela viatura branca e temida a libertar o meu espaço. Apesar da forma rápida e correcta como os agentes acederam ao meu pedido sinto-me vingado.

Tirando duas multas de estacionamento, não me recordo de ter mais incidentes com a autoridade. É certo que aguardo saber se uma recente desatenção na A1 foi, ou não foi, registada, mas eu, e o meu orçamento, desejo que não tenha sido. De resto é uma vida sem mais registo de infracções, porque das normais pequenas maldades de crescer não foi feito registo.

Recordo-me apenas de uma tarde de treinos na rampa da Falperra. Uma tarde onde por estar no local errado na hora errada, foi ajudado a descer um muro a cacete. Sem mais marcas do que a registada dolorosamente nas minhas costas durante uma semana.

Marca que desapareceu sem deixar raiva por quem tenho respeito. E que hoje compreendeu a minha máscara de quase triunfo, e que também sorria quando indicava ao colega a necessidade de retirar a viatura.

"De pé vítimas da fome... "

Monday, September 12, 2005

Caminhar e descobrir

Ontem caminhei cerca de 22 km nas Terras do Barroso, percorridos em trilhos antigos que uniam as aldeias antes do alcatrão ter rasgado vias mais recentes. Seis horas a caminhar entre aldeias em pré-abandono como demonstram os edifícios escolares com os invariáveis sinais de inactividade. Seis horas a percorrer ritmos muito diferentes dos citadinos.

Percebi nas pessoas com quem cruzamos uma satisfação por ver “gente de fora” nos seus montes, mas também uma incompreensão pelo “ócio”, natural em quem não tem descansos semanais nas suas rotinas agrícolas.

No final do caminho um senhor com uns 60 anos perguntou-nos por onde tinhamos andado e se tinhamos gostado das paisagens. “Conheço isso tudo” - e acrescentou coisas que sabe só eles conhecerem marcando a diferença. Perguntou também de onde eramos, “Conheço” - e listou as cidades que conhecia. “A primeira vez que saí foi para fazer a tropa no Algarve. Se me tivessem colocado em Chaves tinha fugido, assim tive 6 meses sem vir a casa. Só quando me mudaram (de quartel) pude vir de licença.” Riu-se quando lhe perguntamos quanto tempo demorava a vir do Algarve - “Dois dias e a maior licença que tinha eram dois dias”.

Talvez não saiba, mas aquele senhor orgulhoso dos seus montes e caminhos fechou o dia com uma lição sobre o país que somos. Um país pequeno que se perdeu no mundo com sonhos de impérios esquecendo-se de se cuidar. Uma história que talvez justifique o país que agora se dilui.

Friday, September 09, 2005

A floresta

Muita se tem dito dos incêndios e sobre as suas causas. Acredito que não há apenas uma causa mas sim muitas e diversas. Portugal não tem gerido com inteligência a floresta e não é de agora. A história da florestação em Portugal foi, e é, um equívoco. Ouvi dizer que estão a gravar o "Quando os Lobos Uivam" para a televisão, eram bom que pudessem compreender e verificar os erros de ontem para os tentarmos corrigir.

Fim de Semana

A semana está a acabar e não deixa saudades. Não tive tempo para nada, apesar de sentir algum conforto por verificar que muitas coisas se aproximam da conclusão. Voltei a adiar muita coisa. Domingo vou fazer uma caminhada com a mesma companhia da anterior. São gente divertida, caminheiros experientes e organizados. Andam muito mais que eu, mas é uma boa forma de ganhar ritmo e começar a fazer coisas mais complicadas. No Domingo passado subi ao ponto mais alto do Alto-Minho. A subida não custou muito porque no grupo havia que fizesse o ritmo baixar, mas ao ver o gráfico percebi melhor a dificuldade de algumas partes do caminho. Sair um bocado da estrada é descobrir paisagens que nos espantam. Só conhecemos os vales e mesmo assim junto às estradas. Percorrer as paisagens ao ritmo dos nossos passos é a melhor forma de conhecer e ajuda-nos a conhecermo-nos. Caminhar liberta-nos para dentro de nós.