Monday, October 30, 2006

As mariolas também enganam


Voltei recentemente a caminhar por uma das zonas mais bonitas do Gerês. É uma região bela e dura, cheia de testemunhos dos antigos pastores daqueles montes. A minha admiração pelos homens que retiravam o sustento naqueles montes não para de crescer. Imagino a vida dura e despojada que tiveram, eu sei que não a aguentaria. Ao passar por umas ruínas de um antigo abrigo comentei isso com os companheiros de trilho. Vida de solidão - alguém disse. Concordei e contei-lhes a proposta que um pastor fizera a uma caminheira do UPB dez minutos após a conhecer: casamento e um dote de largos milhares de contos. Não havia tempo a perder porque no monte não há muitas oportunidades.

Experimentei a navegação por carta e bússola e resultou. Tirei o azimute pretendido e fui confirmando o trilho marcado pelas mariolas até ao Borrageiro. Decidimos depois tentar a descida por uma garganta que nos parecia complicada. O terreno e a carta não indiciavam que fosse uma boa opção, mas a existência de umas mariolas foi o suficiente para ultrapassar os receio iniciais e descer por lá. Puro erro, era um terreno complicado, perigoso e fechado por mato como a carta indicava. Um esforço e risco desnecessários. Como com os erros também aprendemos não foi tempo perdido.

Tuesday, October 24, 2006

A gente vai continuar

Tira a mão do queixo, não penses mais nisso
O que lá vai já deu o que tinha a dar
Quem ganhou, ganhou e usou-se disso
Quem perdeu há-de ter mais cartas para dar
E enquanto alguns fazem figura
Outros sucumbem à batota
Chega aonde tu quiseres
Mas goza bem a tua rota

Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar

Todos nós pagamos por tudo o que usamos
O sistema é antigo e não poupa ninguém, não
Somos todos escravos do que precisamos
Reduz as necessidades se queres passar bem
Que a dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
E a liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo

Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar

A gente vai continuar - letra e música de Jorge Palma

Monday, October 23, 2006

Estado bruto


Há muito tempo que não fazia uma destas. O corpo já não aguenta e as coisas agora tem outro sabor. Um sabor a decadência com música de Jorge Palma como banda sonora.
Aproveitei o propósito de encontrar "velhos" amigos para revisitar locais do passado. Na sede/bar dos "Passarinhos da Ribeira" tive um visão da realidade dois andares abaixo do "Portugal profundo". Um encontro com os sintomas da decadência que os cartazes turísticos procuram esconder. Comentei para o lado que aquilo seria o Porto e os "tripeiros" em estado puro. "Estado bruto" - corrigiram-me.
Uma pequena amostra do lado errado da noite, "Kilas" e aprendizes de outros ofícios. Prova que as cidades não se renovam por decreto. A decadência dos centros históricos das cidades é, antes de mais, social. Não adianta tratar das fachadas, fazer bonitos cartazes paras os turistas visitarem, sem resolver a questão das populações que os habitam. O Porto "Património Mundial" é como um espelho esquizofrénico onde a cidade apenas se contempla às vezes. Um local onde há sempre alguém pronto a "endrominar" os incautos. Um local onde se deve manter os sentidos em alerta. Um local para chegar de táxi e sair de táxi.

Wednesday, October 18, 2006

Investigações

Descobri algumas fontes bibliográficas sobre o Gerês que espero conseguir na Biblioteca Pública de Braga. São na sua maioria artigos de revistas e livros raros, publicações anteriores a 1950 com edições pequenas e impossíveis de encontrar. Um desses livros é uma publicação de um relato muito antigo sobre uma viagem de exploração ao Gerês a mando de D. Gaspar de Bragança, Arcebispo de Braga. Espero encontrar neles algumas indicações para futuras caminhadas.

Monday, October 16, 2006

Workshop de Orientação


Durante o último fim-de-semana fiz uma pequena formação em Orientação. São conhecimentos que espero me venham a ser úteis nas minhas caminhadas. A cartografia é uma coisa apaixonante, permite-me fazer um reconhecimento do terreno previamente e já me foi útil algumas vezes. Ganhei o hábito de consultar o site do IGEOE antes de realizar seja o que for. Ter uma ideia do terreno, por menor que seja, é sempre melhor que o total desconhecimento.

Ainda que ofenda os mais puristas fiquei deslumbrado com o GPS. No exercício prático tentei sempre fazer a utilização da carta e bússola, só que o GPS, quando funcionava era muito mais prático.

No grupo da formação reencontrei um caminheiro que conheci junto à Rocalva (PBPG) numa caminhada do UPB, estive a falar um pouco com ele. É impressionante a “pedalada” que tem. Faz travessias enormes dentro do PNPG, conhece tudo e não tem medo de ir sozinho.

No final do exercício fomos comer um bacalhau ao Xico da Torre (Fiscal- Amares). O tasco está cada vez mais tasco mas o bacalhau sabe sempre bem. Deu-nos a provar um vinho “americano”. Não sei se é por falta de hábito mas pareceu-me muito mau. O Verde tinto também não era famoso e acabei numa cervejinha. Posted by Picasa

Monday, October 09, 2006

A Porta de Campo de Gerês


Passados dois anos da abertura da primeira porta a CM Terras de Bouro abriu a segunda das 5 inicialmente previstas. Tive a intenção de a visitar este fim de semana mas, como se encontra em instalação, preferi aguardar algum tempo para a puder visitar como deve ser. A minha experiência na Porta de Lamas de Mouro foi muito positiva e as comparações podiam ser injustas. É "normal" que existam alguns problemas no início dos projectos. Em Lamas de Mouro as coisas também terão começado menos bem. É a necessária aprendizagem.

No projecto das portas do PNPG há uma fragilidade evidente que resulta do afastamento do PNPG destas estruturas. Se a ideia é orientar os visitantes na entrada no parque nacional, se a ideia é acabar com a "anarquia" actual, não faz sentido que o PNPG não esteja presente. Só que os investimentos e os salários são suportados pelos municípios e por isso percebo que os queiram gerir. Não culpo as câmaras municipais culpo o estado que não dá condições ao único parque nacional. Espero é que haja bom senso para que pelo menos na formação dos recursos humanos seja assumida pelo PNPG. Essa, é para já a falha mais evidente desta nova porta.

Ao lado as obras para o museu da Geira estão avançadas. Um amigo tem sobre isto uma posição muito particular - "As pessoas que se deslocam para o Gerês não querem visitar museus, querem visitar a paisagem". Poderá ter razão, ainda que entenda que um verdadeiro museu faz sentido. Não percebo é o local escolhido. Espero é que não retirem o património do seu lugar para o esconder em salas.

Só que mais do que tudo isto preocupa-me a pressão turística que vejo crescer na zona do Campo do Gerês. Nos últimos anos vi multiplicaram-se na zona empresas de aventura com uma ética ambiental muito discutível. Não sou fundamentalista em questões ambientais, acredito que se deve garantir às populações o conforto de que necessitam. E aqui inclui-se a necessidade de prosperar. Quando visito alguma coisa ao fim de semana procuro não esquecer que ela existe também à semana. Só não percebo é porque se permite concentrar tanta coisa numa zona tão perto de zonas importantes e sensíveis como a mata da Albergaria. Essa é mais uma razão para que o Parque tivesse tido uma intervenção superior na instalação das portas. Não duvido que quisesse, não reuniu foi as condições. Quando as coisas correrem mal, se correrem, virá disciplinador e tarde. É assim, somos educados com excessos de disciplina e pouca pedagogia. Depois somos este modelo de cidadania.