Num deserto de areia ou de incerteza
O desejo desenha.
Fantasia um fantasma, que lhe venha
Acudir.
Qualquer Preste João,
Também cristão,
Mas rico e generoso,
Que, depois do mar largo e tormentoso,
Possa abrir
As arcas da canela e da pimenta
Aos seus irmãos,
Cristãos,
Que a terra natural já não sustenta.
Miguel Torga, A miragem (Poemas Ibéricos, 1965)
Já por aqui disse que um dos meus objectivos da vida é coleccionar os livros de Miguel Torga nas edições da Coimbra. Ainda que possua alguns livros de edições recentes, é nesses livros tipografados que quero ter toda a obra do autor. Uma colecção realizada ao ritmo de colector vagaroso e de oportunidade. Talvez para o fim me apresse, mas por agora faço-a a um ritmo incerto sem me preocupar com as datas edições que compro.
Há muito que não fazia qualquer compra, mas hoje recebi pelo correio 3 livros que comprei a um preço justo. Tenho outros identificados e talvez brevemente volte a enriquecer a minha estante. Como disse não tenho pressa.
O poema que publico retirei-o de um dos livros que recebi. Escolhi-o depois de ler as notícias de hoje. Talvez o nosso erro seja esperar que o Preste João nos acuda por razão de fé, talvez já não tenha tanta canela e pimenta, talvez não seja generoso, talvez não exista e tenhamos que encontrar sozinhos uma saída deste deserto de areia e de incerteza. Talvez seja melhor enterrar os nossos fantasmas e acreditar mais em nós.
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