Monday, November 13, 2006

Brandas da Gavieira


No último fim-de-semana realizei com o UPB uma caminhada pelas brandas da freguesia da Gavieira (Arcos de Valdevez) que me permitiu juntar vários dos atractivos do pedestrianismo. Caminhar por antigos caminhos rurais e de montanha e conhecer um pouco melhor um Portugal esquecido. Visitámos várias brandas e um magnífico Fojo de Lobo. Numa encosta próxima era ainda possível deslumbrar o desenho de um outro, estive tentado a visitá-lo mas a noção da necessária disciplina horária foi mais forte que a curiosidade. Os fojos de lobo não me deixam de surpreender, o esforço colectivo necessário para a sua construção e manutenção marcam bem dura relação que o homem tinha com este predador.

Iniciámos a caminhada em Roucas, com uma subida acentuada até à branda de Gorbelas. Esta parte inicial da caminhada está marcada pela Adere-PG como Trilho das Brandas, um percurso de ir e voltar de 8 km e com uma ascensão de 600 metros. Eis a descrição do trilho:

“Este trilho realiza-se em plena Serra da Peneda e leva-nos a conhecer o modo de vida das populações pastoris da montanha. Partindo do lugar de Roucas, freguesia da Gavieira, tomando um caminho ladejado que ascende pelo lugar da aldeia. Seguindo as marcações de cor amarela e vermelha, vamos deixando a aldeia para trás a povoação e penetrando a montanha, subindo passo a passo, gradualmente e vencendo os desníveis.

Por este carreiro passavam os carros de bois de raça barrosã que ligavam o lugar de Roucas à Branda de Gorbelas. Após alcançarmos o estradão de terra viramos à esquerda e continuando a subir, para alcançarmos a Branda de Gorbelas, rodeada por campos de centeio fechados por belos muros de pedra solta. Desde aqui seguimos por um caminho de lajes que se abre entre a penedia, vencendo fortes declives e que nos conduzirá ao Poulo da Seida.

Trata-se de uma velha branda de gado, esquecida no tempo e na memória, a qual permitia uma pernoita mais segura aos pastores e aos rebanhos, de modo a protege-los do frio da noite e da ameaça do lobo. Daqui seguimos para o fojo do lobo, localizado entre o Alto da Pedrada (o ponto mais alto da Serra Peneda) e Lamas do Vez (o local onde nasce o Rio Vez).”


No Poulo da Seida, onde almoçámos, o grupo separou-se em grupos menores. Eu segui até à Corga do Enforcado/Lamas do Vez e acompanhei depois, a meia encosta, o muro do fogo. Junto ao fojo encontrámos um grupo de Roucas em pleno trabalho comunitário(melhorias numa fonte de água que abastece a Branda de Gorbelas). Trocámos algumas palavras sobre o fojo e sobre os lobos. Nos últimos dias teriam morto dois animais na zona. Alí perto, uma carcaça comprovava uma das mortes. Dissera-nos que no incêndio de Agosto teriam morrido alguns lobos na Mata do Ramiscal, mas acredito que tenham abandonado o vale antes do fogo o alcançar.

Após o almoço descemos a Gorbelas onde abandonámos o trilho em direcção à branda da Junqueira. Esta parte já não pertencia ao trilho da Adere-PG e tinha algumas zonas fechadas pela vegetação. Em Junqueira encontrámos um pastor com um bezerro com uns 3 dias, tinha nascido no monte sem a sua assistência pois julgava tardar mais alguns dias para o parto. Junqueira, como a anterior, é uma branda de cultivo e pasto com uma bonita envolvente, mas sem a beleza dos campos em solcalco de Gorbelas.

Seguimos para a Branda da Busgalinhas onde a nossa caminhada voltou a coincidir com um trilho da Adere-PG, o “Pertinho do Céu”. Busgalinhas, mais uma branda de cultivo e pasto, de todas é a que tem um casario mais bonito. Na Branda de S. Bento do Cando, famosa pela romaria, abandonámos o trilho da Adere e descemos até Gavieira, e dai até Roucas, por antigos caminhos rurais. O grupo estava cansado, uma das colegas apresentava dores num joelho, as sombras avançava rapidamente e a tarde arrefecia.

Em Roucas estivemos a falar um pouco uma senhora que nos disse ir todos os dias até à branda onde estão os seus animais. Faça sol, chuva ou neve, são quase 8 quilómetros diários. Na Peneda, a proximidade das brandas da Peneda com os lugares fazia com que, normalmente, não fossem habitadas. O fenómeno de transumância característico de Castro Laboreiro não se repetiu aqui. Explicou-nos que tinha algum desgosto de não ser um pouco mais forte mas a sua constituição seca era sinal de uma resistência impressionante. Mais um sinal da diferença entre o urbano e o rural, ali a “gordura ainda é formosura” ser “cheiinha” é ainda um ideal de beleza. As novas gerações já não serão assim.

Nota: na madrugada de Domingo um dos colegas da caminhada teve um problema de saúde complicado. No UPB todos esperámos que se recupere depressa.

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