Monday, November 20, 2006

Minas a Minas




Há desafios a que é difícil responder não. A última caminhada foi um desses desafios. A persistência de uma tosse incomodativa aconselhava-me a um fim-de-semana de repouso mas o convite era tentador. A caminhada em si já era um bom desafio e fazia muito tempo que queria conhecer aquelas zonas. Por diversas vezes tinha estudado a carta 31 imaginando os trilhos a fazer.

Para aproveitar as horas de luz combinámos que às 7h00 já estaríamos na Portela do Homem. Parte de nós optou por ir dormir ao Parque de Campismo da Cerdeira. O frio e a chuva não aconselhavam o campismo mas o parque possui 4 alojamentos colectivos, num total de 24 camas, muito bons e úteis para estas actividades. Os restantes madrugaram e à hora marcada não faltava ninguém. O antigo edifício da fronteira está ser transformado em museu, seria engraçado voltar a ter uma café/bar naquela zona para apoio dos finais das caminhadas.

Umas centenas de metros depois dos carros iniciámos a caminhada com a subida da encosta do Vale da Sabrosa. Já tinha escutado e muito sobre ela, como é dura e difícil, agora fiquei a conhecer. Percebo porque me disseram uma vez no Gerês - Prados da Messe? Não conheço, tem-se que subir muito. E fazer a subida debaixo de chuva forte e nevoeiro não ajudou nada. Em pouco tempo as botas deram de si, os trilhos pareciam ribeiros e era impossível manter os pés secos. No final da subida estava verdadeiramente cansado. Continuámos a subir e perto dos Prados da Messe encontrámos as mariolas do trilho que procurávamos. O Gerês é uma enorme rede de trilhos marcados por pastores ao longo de gerações, com um bocado de experiência e conhecimento do terreno é quase impossível ficar perdido durante muito tempo. Claro que o nevoeiro não ajudava e por vezes a dúvida instalava-se.

Num local que identifiquei na carta como perto da Torrinheira, com a Fichinhas, a Rocalva e Sombrosa em frente o dia abriu mostrando uma paisagem magnífica. É por paisagens como aquelas que me considero um privilegiado por fazer estas caminhadas, é a justa recompensa por sair das estradas. Quem acha que o Gerês é bonito sem o conhecer assim não teria palavras para elogiar. Aquela é a montanha de que eu gosto. "Um nunca mais acabar de espinhanços e de abismos, de encostas e planaltos. Um mundo de primária beleza, de inviolada intimidade, que ora fugia esquivo pelas brenhas, tímido e secreto dum postigo, acolhedor e fraterno", como Miguel Torga descreveu as paisagens serranas da Peneda a Pitões.

Com um ligeiro atraso no horário previsto, marcámos almoçar nas minas do Borrageiro. O caminho até lá foi fácil, todo marcado pelas sempre presentes mariolas, Corgo do Arrocela, Corgo das Mestras (li depois na carta) e rapidamente chegámos às ruínas das minas. Meia dúzia de restos de casas pequenas, toscas e pobres. Testemunhos de uma vida difícil. Após um almoço rápido, porque se arrefecia muito rapidamente, voltamos a caminhar. Um pouco à frente encontrámos o trilho que desce da ponte das Abrótegas atravessando os Cocões do Coucelinho em direcção às Lagoas do Marinho.

Este terreno já o conhecia, tinha-o feito com os Monte Acima e com a Jana e com a Fungo, duas companheiras do UPB desaparecidas das últimas caminhadas, em sentido inverso, descendo para Xertelo, num dia tórrido de Junho. Na subida o grupo dividiu-se em dois, uns continuariam em direcção às Minas da Sombra (Espanha) e outros desceriam o estradão dos Carris. Como queria conhecer a ligação para as Minas da Sombra segui no primeiro grupo.

Na Ponte das Abrótegas, com os dados de GPS do Rato do Campo e Lobo Mau seguimos em frente, ao estudar as cartas já tinha ficado com a sensação que o melhor caminho seria ir a "direito" para norte. O trilho escolhido confirmou essa leitura. A ligação foi fácil, menos de uma hora, e depois de um reforço alimentar rápido descemos até ao estradão que liga à fronteira. Quem já fez o sabe como é longo e desmoralizante. Em cada curva vislumbramos o caminho a fazer que parece nunca mais acabar. Chegámos à estrada apenas um pouco antes da luz do dia se extinguir. Depois foram uns penosos minutos de asfalto até à fronteira.

No Parque da Cerdeira com os restantes elementos retemperámos as forças. De acordo com o GPS do Lobo Mau - obrigado pelo mapa- tinha sido uma caminhada de 32 km com um desnível acumulado de 1400 metros e corpo queixava-se disso.

No comments: