Monday, February 21, 2011

Uma aventura na Serra

Vivi na companhia de 2 amigos uma grande aventura na Serra quando uma linha de água intransponível tornou impossível a conclusão do trilho que estávamos a realizar. Sem meios de atravessar para a outra margem em segurança, e sem tempo de voltar no sentido inverso, tivemos que fazer opções que resultaram felizes. Sair da Serra foi um misto de sorte, instinto, experiência, equipamento e amizade. Sorte porque encontramos um trilho no momento em que ele era necessário. Instinto porque seguir o trilho quase sem luz e  depois em luz só foi possível graças a um instinto que nos levava a reencontrá-lo sempre que a noite o escondia. Experiência porque foram os muitos quilómetros e horas de Serra que desenvolveram o instinto de ler o terreno nos seus pormenores (o pisoteio, o aproveitar as curvas de nível para diminuir os esforços, etc.). Equipamento porque o GPS primeiro deu-nos tranquilidade e depois levou-nos ao trilho. Amizade porque sentimos sempre que do outro lado do telemóvel estavam pessoas que se preocupavam connosco e a quem poderíamos recorrer quando fosse necessário tal como o fizemos. Explicar porque um amigo de uma amiga se meteu à Serra ao nosso encontro e nos poupou os últimos e penosos quilómetros só é possível em nome de uma amizade desinteressada e um sentimento de responsabilização pelos seus "vizinhos", um sentimento que a “cidade” nos foi diminuindo. É o anonimato citadino que quebra os laços ancestrais de fraternidade mimetizados com amigos no facebook. Cada vez tenho mais a certeza que a livre comunhão e a desinteressada fraternidade  precisam dos pés presos ao chão. O Torga tinha razão e talvez por isso goste de o imitar nos "métodos de almocreve" e "ouvir apenas nas fragas, nos matagais, nos restolhos, nas areias e nas calçadas o eco dos meus próprios passos". Precisamos de estar em comunhão com o nosso lado telúrico para sermos mais autênticos.

5 comments:

MEDRONHO said...

correu tudo bem :)

abraço

e a SERRA aqui tão perto!!

White Angel said...

Louro,

Alegra-me saber que temos o mesmo conseito de amizade...:)
E de facto o Fernando tem um coração fantastico... homem simples da serra...

Um dia temos mesmo de fazer esse percurso com bom tempo;)

Beijinhos.
Dorita

Anonymous said...

ena, que aventura!
eu já não vou à serra há tanto tempo que até dos maus bocados dos outros tenho inveja hehe
mas ainda bem que tudo acabou bem :)

j.

Rui C. Barbosa said...

Louro,

A montanha ensina-nos a ser húmildes. A admissão dos nossos erros e fraquezas, coisa que a maior parte das pessoas que andam na montanha não têm coragem de fazer, é a mostra de que aprendemos a lição.

Abraço!

Sherpa.Jorge said...

Uma aventura que acabou como tinha de acabar ... acima de tudo a amizade e a confiança... mas o GPS ajuda e muito ;-)

Gostei de ler o relato.