As botas ainda estavam húmidas quando as meti no carro. A caminhada do dia anterior ainda estava muito fresca mas a proposta do Medronho era demasiado atractiva para recusar. A encosta da Serra do Gerês virada para Montalegre é uma zona mais abrupta, mais despida de vegetação mas de uma beleza que começo agora a descobrir. Era uma oportunidade que não queria perder. Aparentemente as pernas também se recusavam a ceder e quase não sentia os efeitos da caminhada do dia anterior.
Encontramo-nos ao pequeno-almoço e aproveitei para me abastecer. Duas sandes, dois sumos, e os chocolates que trazia na mochila, comida a menos mas não queria ir muito carregado. Nas Cerdeirinhas encontrámos a Nogueira e uma amiga e seguimos para Fafião.
No total éramos 10. O nosso guia seria o Águia-Real - Os Manos, o Urso Solitário, que conheci com o UPB na primeira vez que fui à Rocalva, onde também estava a almoçar no meio de uma caminhada solitária, a "caloira" Bouça, uma amiga da Nogueira, e os restantes UPB's (Medronho, Passo Largo, Milhafre, Capreolus, Cebolinho, Nogueira e eu).
Começamos a caminhar pelas 10h00, algo tarde para extensão do percurso porque agora os dias são curtos. A parte inicial do caminho foi relativamente fácil, mas cumprida a um bom ritmo. O dia estava muito bom e permitia ver ao longe, na Serra da Cabreira e Pitões, como as zonas mais altas estavam cobertas por um manto branco. Provavelmente encontraríamos neve nas zonas mais elevadas da caminhada. A zona é muito bonita para explorar, mesmo a cotas menos altas há paisagens soberbas. Como a conheço mal tive alguma dificuldade em navegar depois pelas cartas e identificar os locais. É por esta razão que gostava de ter um GPS, para poder registar os percursos para memória futura. No monte normalmente é mais fácil seguir outras indicações. Mas quando tentei depois refazer o trilho do Águia-Real no IGeoE-SIG fiquei com algumas dúvidas. Percebi que subimos até às lagoas por uns vales a sul/suldeste de um pico identificado na carta como Fojo de Alcântara, mas fico com "brancas" em partes do caminho.
Conforme íamos subindo, e vislumbrando o caminho a fazer, ficou claro que a neve esperava por nós. Um pouco antes de chegarmos às Lagoas do Marinho já enterravamos os pés e ela continuava a cair. Em certas momentos foi até um bom desafio e tivemos que ter alguns cuidados.
Almoçamos num abrigo junto às lagoas e recomeçamos a caminhar. O trilho seguia por um estradão escondido debaixo do manto de neve. Tínhamos a consciência que já era tarde e começamos a apertar o passo. Nevava e a progressão nem sempre era fácil. A uma cota mais baixa, passado o nevão, o manto de neve permitia ver as pegadas de um pequeno animal, possivelmente uma raposa. Seguimos em estradão por um vale muito bonito - o Corgo da Mão de Cavalo - até à Albufeira do Porto da Laje . Nas margens, as marcas recentes testemunham a força das chuvas de Novembro. O vale é uma enorme rede de linhas de água, dos adjacentes vales profundos e ravinosos, que alimentam o Rio Fafião e em dias de chuvas fortes devem recolher um enorme caudal.
A partir da Albufeira o trilho passou a pé posto. Um trilho de dificuldade elevada mas de enorme beleza. Num certo obstáculo senti mesmo algum receio. Abandonámos o trilho pouco tempo antes de anoitecer e fizémos parte do estradão final já sem luz. Chegámos ao café, onde nos esperavam às17h00, pelas 18h30. Um pouco mais e teriam comunicado às autoridades que estávamos a demorar. No total devemos ter feito uns 23 Kms, num misto de estradão e trilhos de pé posto. Uma caminhada de elevada dificuldade mas que me deu um enorme prazer. Uma das melhores que realizei.
O Águia-real tinha encomendado uma sopa que comemos na mesma sala onde jantavam os donos do café. O dono do café quis saber por onde andámos e fez comentários sobre outros trilhos. Contou-nos algumas histórias da sua infância, com pouco mais de 12 anos vinha com mais 20 kgs desde o Porto da Laje onde tinham colmeias. Às sopa seguiram-se os tradicionais bolos e ficámos um bom bocado a conversar. Depois de duas caminhadas sentiam-me bastante bem, só na parte final, em algumas zonas mais inclinadas do estradão, senti os músculos dos joelhos. Em dois dias devia ter feito quase 40 kms de alguma dificuldade mas não sentia grandes efeitos. Tinham sido duas boas provas para as novas botas que se revelaram confortáveis. Uma boa compra.
fotos em: Caminhadas
No comments:
Post a Comment