Recentemente decidi procurar as velhas edições do Editora Coimbra do Miguel Torga. Gostava de conseguir ficar com as obras completas mas descobri que será muito complicado. Essas edições foram enviados para as feiras e agora apenas se encontram as edições da D. Quixote. Eu prefiro as outras. As de papel rude com os cadernos por cortar. Prefiro o prazer de os abrir com uma faca antes de os ler. Os livros assim parecem-me tesouros guardados. Percorri diversas livrarias na esperança que ainda os tivessem esquecidos em prateleiras. Fiquei com colecções incompletas que agora vou tentar completar em alfarrabistas. Só que lá só encontrarei livros abertos. Letras que outros já leram.
Numa das minhas buscas fui à Livraria Bertrand, que no centro de Braga ocupa agora as instalações da Livraria Cruz. Lá não consegui nenhum livro mas deram-me uma indicação. Nos andares superiores ainda existe o espólio da antiga livraria e é possível comprar livros. Basta tocar que o Sr. Cruz está normalmente lá para atender. Foi o que fiz no dia seguinte.
O Sr. Cruz é uma das figuras do Sec. XX em Braga. Tipografo, editor e livreiro é uma pessoa que vive entre livros. Acompanhou-me por diversas salas carregadas de estantes com livros, apesar da idade sabe onde estão sem a ajuda de computadores. É um símbolo de uma época que passou mas que deixa alguma nostalgia.
Na despedida a propósito das mudanças do tempos atirou-me com isto - "Na minha aldeia hoje não há uma vaca". Há neste desabafo um grito contra um tempo que gostava de contrariar. Lendo os planos para as novas superfícies a instalar em Braga percebo-o melhor. Há qualquer coisa de estranho que um país do sul tenha mais centros comerciais que os países do norte da Europa. Quem sabe se no futuro não haja quem diga - "No centro não há comércio".
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