Primeiro levaram os comunistas,
mas eu não me importei
porque não era nada comigo.
Em seguida levaram alguns operários,
mas a mim não me afectou
porque não sou operário.
Depois prenderam os sindicalistas,
mas eu não me incomodei
porque nunca fui sindicalista.
Logo a seguir chegou a vez de alguns padres,
mas como não sou religioso,
também não liguei.
Agora levaram-me a mim
e quando percebi,
já era tarde.
Bertolt Brecht
Este poema veio-me à memória quando escutei na rádio a notícia de que o Governo pretende reduzir as funções nucleares do Estado à defesa, segurança e diplomacia. Estou absolutamente convencido que a gestão da informação pelo actual Primeiro-ministro é um dos maiores exemplos eficiência. Em Portugal não deve haver um político tão hábil na gestão da informação. E não me admirava que no futuro a sua estratégia de comunicação fosse tema de teses universitárias.
A forma como gere a informação, na maioria das vezes a falta de informação, é absolutamente brilhante. Foi anterior governo que quis criar uma central de informação, mas foi este que a criou. E o episódio da trapalhada da anterior tentativa é bem paradigmático da eficiência de comunicação. É que uma coisa dessas não se anuncia.
E porque falo em eficiência? Porque os ciclos são geridos cirurgicamente. A informação é disponibilizada quando produz maior efeito ou menos dano. E lançar esta informação debaixo do "ruído" da campanha do referendo não é por simples acaso. É o momento escolhido para libertar a informação.
O poema é pelo "modus operandi" desta e doutras medidas. A táctica é simples e usada pela maioria dos predadores. Escolhe-se o alvo, procede-se ao seu isolamento e finalmente ataca-se. Foi assim com as farmácias, com os juízes, com os professores, etc.. Primeiro estimulou-se e promoveu-se os sentimentos de "mau vizinho" como a inveja e a mesquinhez. E depois lançaram-se os ataques esperando os restantes fiquem a assobiar para o lado ou mesmo a aplaudir a coragem.
O problema é que na busca da eficiência perde-se a noção do desígnio global. O projecto não nos é explicado porque a gestão da informação, na prática a falta dela, é vital para a estratégia. Vai-se é ficando com a impressão que o primeiro ataque é simplesmente para fazer correr a presa e a cansar. Só depois se dá o ataque.
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