Wednesday, February 07, 2007

Quase Carris


Recentemente subi aos Carris saindo de Xertelo numa caminhada do UPB. Mais uma vez, o nosso guia foi o Águia-Real que conhece como poucos a zona de Montalegre do PNPG. A caminhada coincidia em parte com o percurso de outra que fiz com os Monte-Acima, mas desta vez tinha a vantagem de estar um tempo mais razoável e não ter que carregar com os mais de 15 kg.

A nossa expectativa era encontrar muita neve. No ano passado um grupo do UPB tinha encontrado locais com mais de 70 cm de neve, numa daquelas caminhadas que de tão extremas se tornam mitos. E havia em todos nós a esperança de reencontrar essas condições. Claro que foi uma esperança que se foi esvanecendo à medida que a semana ìa avançando. Até ficar claro que seria diferente. Ainda assim, a uma caminhada anunciada com muito difícil, apareceram 24 "botistas".

Começamos a caminhar e fui ficando para trás, não de uma forma forma propositada mas porque me apetecia um ritmo calmo e porque tinha sentido umas pontadas num tendão que queria proteger. Razão pela qual a subida acabou por ser feita um pouco em "solitário", afastado do grande grupo, que só reencontrei numa paragem no Espigão da Lama de Pau, para o "perder" pouco depois do marco do Castanheiro, distraído, com o Tiago, com umas pegadas de lobo. Nunca tinha encontrado prova tão visível da existência de lobos e, aparentemente, seriam de mais do que um.
A ideia original seria cruzar a Ribeira das Negras, contornando a norte o Pico da Mantaça, e subir aos Carris pelo Pulo do Lobo. Junto à Ribeira das Negras percebemos que o grupo subia para os currais da Ribeira das Negras e continuámos a segui-los a uns 7/8 minutos. Aparentemente teriam optado por evitar o Pulo do Lobo subindo pela Ribeira das Negras. Para trás ficavam ainda o J Preguiçoso (Jota) e a Cenourinha com os quais íamos mantendo contacto visual. Mais perto percebemos que a ideia seria subir por um trilho que o Tiago já me tinha referenciado. O grupo ia subindo com cuidados e a visão era impressionante, aparentemente não parecia existir caminho. O trilho ficava numa encosta à sombra e parecia haver gelo debaixo da neve. Com o Tiago, que já tinha subido por aquele local, preferi continuar pela Ribeira das Negras. O Jota e Cenourinha, que entretanto tinham chegado, foram connosco. Pouco depois tentámos subir pela ribeira do açude da Mina dos Carris. Um erro. A ribeira desce por uma garganta que se tornou complicada e começamos a pensar de valeria a pena continuar. O Jota subiu mais um pouco e procurámos um local mais resguardado do frio para comer qualquer coisa. A Cenourinha acabou por seguir o Jota, deixando-nos um pequeno sentimento de culpa por não os seguirmos. Nenhum de nós faziam questão de visitar a Mina e já se estava a tornar tarde. Subir pela Ribeira das Negras implicaria descer o Pulo do Lobo, optamos por descer e esperar o grupo no Corgo de Lamalonga.

O Corgo de Lamalonga deve ser a paisagem mais alterada pela mina. O que, não devendo ter existido no local grande actividade mineira, pode parecer estranho. Só que as águas do edifício da lavagem da mina corriam para aquele vale e, por acção da erosão dos terrrenos, ou por efeito químico das águas, o planalto ficou transformado numa imenso deserto. E não seria assim como o atesta a existência de diversos currais. Num desses currais constatei como os pastores calafetavam os currais cobrindo-o com terra que colmatava as fendas.

Descemos seguindo um trilho de mariolas em direcção à Lage dos Bois e Lage dos Infernos. A subida pelo Castanheiro é bem mais suave e percebi porque o Águia-Real tinha medo de apanhar gelo na Lage dos Bois. Com gelo teria sido uma descida muito complicada e difícil, a obrigar a muita atenção. Chegamos a Xertelo já sem luz e corremos para o restaurante da ponte de Cabril onde nos serviram uma excelente sopa. Há uns anos, nesse mesmo restaurante, comi numa quente noite de Agosto, na varanda sobre o pequeno braço da albufeira de Salamonde, uma das melhoras trutas da minha vida. E Cabril ficou para mim com esse sabor.

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