Wednesday, November 17, 2010

Brandas de Sistelo



Gerês, 3 de Agosto de 1959 - Gosto de rever certas paisagens, ainda mais do que reler certos livros. São belas como eles, e nunca envelhecem. O tempo não degrada a linguagem que as exprime. Pelo contrário, enriquece-a, até, num esforço de perfeição constante que, embora involuntário, parece intencional.Faz alargar a copa a um carvalho, e reforça determinado volume; outaniça precocemente algumas folhas, e esbate um pouco a cor afogueada duma encosta; entoira um ribeiro e gera um lago onde se espeçha o perfil dos montes. E eu olho, olho, e não me canso de admirar uma placidez assim permanentemente movimentada. Pobre artista que sou, sei que é esse renovo ininterrupto que falta ás obras puramente humanas. Mesmo as geniais, são momentos vibráteis na qietude da eternidade, ilhas vulcânicas no mar morto do tempo. Agitam-se, mas dentro do seu anquilosamento histórico.

Miguel Torga, Diário VIII

Recordei-me desta entrada do Torga ao longo da caminhada do último Domingo pelas Brandas de Sistelo. É que se o  trilho já era conhecido, a paisagem estava diferente. As previsões meteorológicas do dia assustaran muitos dos interessados e, em consequência, a participação não foi elevada. É verdade que o dia cumpriu com o prometido, mas eu adoro caminhar à chuva. Só esses dias nos proporcionam a visão da serra no máximo da sua força. Por todo o lado rebentam águas e nos vales profundos as linhas de água correm com uma violência admirável. Há muito tempo que não caminhava num dia assim e valeu a pena.

A informação do trilho realizado encontra-se disponível no site da AAEUM. Voltaremos a este trilho mais algumas vezes.


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