Monday, May 09, 2011

Plantação nos currais da vezeira (Fafião) - 4 de Junho


"Domingo, bem cedo, ao nascer do dia, passam 30 minutos das 6 da madrugada, os populares de Fafião reunem-se no centro da aldeia carregados de mochilas, instrumentos para remover a terra e duas dezenas de carvalhos.Sai-se da aldeia em grande algazarra com a carrinha apinhada de gente e numa estrada de terra batida lá se vai em direcção a Malhadoira. A estrada acaba, mas continua-se a pé, por entre nascentes, arvore-dos e regatos mansos, carregando instrumentos, árvores e boa disposição.

Chega-se a Pinhô, depois de mais de uma hora de caminho, passando por pastores, vacas, cabras, pássaros madrugadores e a neblina macia da matina. É hora de “matar o bicho”, descansar e organizar o trabalho para o dia. Entre copas de Gerupiga e pão da terra, decidem-se em assembleia as tarefas, a hora e o ponto de encontro. Formam-se grupos de 3 pessoas, divididos pelos vários currais onde serão plantadas as árvores. O mesmo é feito para a limpeza de carreiros, caminhos e matas, prevenindo os incêndios e conservando o património que muitos dias do ano se confunde com o seu lar.Pousada, Amarela, Vidoirinho, Iteiro D’ovos, Padrolã, Rocalva, são os nomes dados aos currais por onde passa a vezeira do gado. Localizados no coração da serra do Gerês, estes lugares contam histórias deste povo nativo, que desde o início da formação da aldeia percorreu as serras agrestes do Gerês, ora pelo calor abrasador do Verão, ora pelo frio e pela neve do inverno, semeando centeio, pastoreando vacas e cabras, trazendo contrabando da vizinha Galiza...Os currais são lugares situados em zonas planas, verdejantes e quase sempre com água; autênticos oásis no meio da montanha, com cabanas construidas em granito, onde os pastores pernoitam durante a época do pastoreio. As árvores são plantadas nesses lugares e à sua volta é construida uma pequena muralha com pedras, para que os animais não lhe comam as folhas. «Os antigos faziam o mesmo, e queremos manter a tradição, para que os nossos netos não esqueçam os seus antepassados e o seu modo de vida.»

No início da tarde ouvem-se os primeiros sinais por detrás dos cumes e vales amontoados de pedra e vegetação serrana. Regressam ao ponto de encontro os primeiros populares que entoam sinais sonoros, na linguagem da serra, bem entendida pelos pastores e viajantes daqueles lados.

Chegam cansados na hora do calor, depois do trabalho e da valente caminhada. É hora de acender a fogueira e fazer o almoço para que esteja pronto quando estiverem todos.É servido o almoço e em festa e convívio caloroso, descansa-se e conversa-se até à hora de regressar, já no final da tarde. Descendo a montanha até à malhadoira, na alegria e farra que caracteriza este povo serrano, encontram-se os vezeireiros, guardando pacificamente dezenas de vacas, próximos da cabana onde estão os mantimentos. Mais dois dedos de conversa e regressa-se à aldeia, à mesma hora que os rebanhos de cabras atravessam o rio.O exemplo destes populares mostra como é possível e inevitável a preservação da natureza, mantendo os costumes e tradições comunitárias, caracterizadas pela proximidade ao meio natural, gerindo o património e tomando decisões sem intermediários."

fonte: artigo retirado de um jornal local em 2005 ? (já não recordo o nome)

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