Friday, May 06, 2011

Sobre a vida pública e sobre as próximas eleições


“O descrédito da vida pública (mais lato que o descrédito da política e dos políticos) é o pior que pode acontecer a uma sociedade. É por essa razão que sempre desprezei o ataque sistemático e populista aos políticos. Não é com abstencionistas adeptos do mal dizer que vamos melhorar. Não me recordo de nada que tenha sido feito unicamente a dizer mal.” Escrevi isto há uns meses largos a um amigo e revolta-me a sua actualidade. As criticas aos políticos devem ser sempre feitas e sem poupar um. Não formam uma casta de intocáveis e alguns deles já deveriam estar cadeia. Precisam é de ser fundamentadas. Criticar de uma forma lata, sem critério e sem fundamentar é abrir as portas a todos aos “ismos” perigosos. Foi o descrédito da política que no século passado criou o caldo social para Salazar, Sidónio Pais e, ainda na monarquia, o João Franco aparecerem. Entre os políticos haverá muita gente fraca, alguns até desprezíveis, mas afinal a culpa é de quem? Quem os elegeu? A culpa é de ETs ou é nossa colectivamente? Os eleitores de Oeiras e Felgueiras quem são? São geneticamente diferentes de nós ou esses casos apenas demonstram pelo absurdo os nossos erros colectivos. Recordo que a crise mundial é de 2008, em 2009 estavam as economias mundiais a debater a crise. Em 2009 houve eleições em Portugal e aqui foi anunciada o fim da crise porque dava jeito. Em Portugal aumentaram-se salários quando outras economias os estavam a congelar porque isso dava votos. Em 2009 os que falaram contra isso eram derrotistas. Estamos em 2011, os que em 2009 e ganharam as eleições dizem agora que a culpa é da crise de 2008 - aquela que em 2009 já tinha acabado e permitiu aumentar os salários - e dos outros. Os outros, são os que em 2009 eram derrotistas e já diziam que isto acabaria por acontecer se não se alterasse o rumo.

Aos irresponsáveis dá jeito criar a ilusão que “são todos iguais”. O descrédito da política favorece os medíocres que querem estar na política e afasta os que deveriam estar na política. O ataque sistemático e populista à vida pública corrói as bases da sociedade. Como o senhor que bate na mulher, não paga impostos e frequenta as portas das escolas a seduzir criancinhas gosta de pensar que todos são como ele porque isso relaxa os critérios de avaliação dos seus comportamentos, há políticos que gostam de nos fazer acreditar que todos são iguais a eles. Só que não é verdade que seja assim. É a esses políticos que dá jeito que a abstenção seja elevada. São esses políticos que estão interessados no descrédito da vida pública.

A minha geração não se recorda, mas foi uma maciça participação nas primeiras eleições após a revolução de 1974 que cimentou a democracia. Foram os quase 90% de participação que nos salvaram da guerra civil como as memórias dos protagonistas de então começaram agora a revelar. É por isso que me irrita os apelos à abstenção e tudo mais que possa contribuir para ela. Os que acreditam que os partidos políticos estão errados devem agir para alterar isso.  Inscrevam-se no partido em cuja base programática acreditarem e promovam a mudança desde dentro. Ou então formem outros partidos que promovam a mudança. Não me venham é dizer que não vale a pena votar. Eu no dia 5 de Junho vou votar e não votarei em branco. Não credito que todos sejam iguais e não me deixo enganar pelas estratégias de comunicação que nos querem fazer acreditar que não é possível reflectir a nossa avaliação sobre os nossos governantes no próximo acto eleitoral.

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