Saturday, January 17, 2009

Recordação do Poeta


Não sei porque diabo escolheste
Janeiro para morrer: a terra está tão fria.

É muito tarde para as lentas
narrativas do coração,
o vento continua
a tarefa das folhas:
cobre o chão de esquecimento.

Eu sei: tu querias durar.

Pelo menos durar tanto como o tronco
da oliveira que teu avô
tinha no quintal.
Paciência, querido, também Mozart morreu.

Só a morte é imortal.

Eugénio de Andrade (Escrito a 17 de Janeiro de 1995, dia da morte de Miguel Torga)
"Não sei" - do Sal da Língual



1 comment:

Sara Oliveira said...

Não conhecia este poema de Eugénio de Andrade ou, simplesmente, ainda não tinha reparado nele.
Mas há um momento (certo) para tudo!
Acabei de colocar uma foto(muiiiito antiga) minha tirada na Aldeia de Vilarinho das Furnas, num dos momentos em que ela emergiu.
E assim, com saudades dessa serra, vim aqui parar e gostei de aqui passar. Não sou muito dada a rimas ...