Thursday, January 15, 2009

Parques e Populações 10

(publicação parcial do artigo)
Principais entraves do PNPG


Identificar as barreiras que impedem a conservação da natureza no PNPG, a partir da visão dos residentes, constituiu um ponto essencial no que diz respeito ao processo de revisão do atual PO, pois são estes os sujeitos que vivem e convivem de perto com a realidade cotidiana do Parque Nacional e consultá-los é no mínimo uma atitude de respeito.

Boa parte dos entrevistados demonstrou hostilidade à existência do Parque Nacional. Esta pouca aceitação, pelo que os dados apontam, parece ter uma origem antiga, que remonta a própria transformação do território em AP. Os sujeitos que reprovam a permanência do Parque, alegam que o mesmo foi criado de forma impositiva, com a promessa de trazer melhorias de vida para os residentes. Dizem ainda que a decisão de criação desta AP foi muito mais uma intenção de uma elite de investigadores e ambientalistas, e também políticos do País, do que propriamente uma iniciativa dos atores locais. Frente a não concretização de promessas feitas na altura gerou-se então conflitos e descontentamentos junto aos moradores. Segundo PINTO & PARTIDÁRIO (artigo submetido), a história da implantação das AP’s em Portugal, de modo geral, assumiu este posicionamento. A decisão de transformar um determinado espaço em AP veio geralmente de um grupo de pessoas que pensou que tais áreas, devido à beleza cênica, o valor cultural e a presença de uma fauna e flora especiais, poderiam estar mais resguardados se passassem a existir como espaços protegidos. Isto, da maneira como se estabeleceu, pode ter sido o âmago do surgimento dos conflitos entre as áreas protegidas e as populações nelas residentes, em Portugal.

Este tipo de embate tem sido uma barreira recorrente para o avanço da conservação da natureza em muitas AP’s no mundo inteiro, principalmente naquelas onde a dinâmica adotada foi a da expulsão das populações humanas de uma área para que esta fosse transformada em Parque. Deste modo, o preço pago para a implantação de Parques em muitos países foi bastante alto.

No caso específico do PNPG observei que, com base nos depoimentos de alguns moradores, o mecanismo pelo qual o Parque tem sido conduzido ao longo dos seus quase 40 anos, ou seja, a partir de uma relação distante com os atores locais, fez nascer nas pessoas um espírito de rejeição, que acaba por recair na figura do diretor, perpassando da esfera institucional para o âmbito pessoal. Isso constitui, no meu entender, um aspecto bastante negativo, pois se reduz um problema complexo a imagem de uma pessoa, esquecendo que esta fragilidade é histórica e institucional e este tipo de posicionamento parece muito mais ser uma postura do tipo – o problema é dos outros e não meu. E, neste sentido, é fundamental que cada sujeito envolvido no contexto do Parque, seja um funcionário, seja um morador, sinta-se co-responsável pela boa condução dos processos mitigatórios dos problemas socioambientais. HAYES (2006), por exemplo, estudando a relação entre os parques e as pessoas em 13 países, por meio da eficácia das AP’s para a proteção da floresta, identificou que a valorização do diálogo é de fundamental importância para o alcance da conservação. Do mesmo modo, XU et. al. (2006) também reforçam esta afirmação.

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